“ A ocupação das escolas é a ferramenta que a juventude tem ao seu alcance para resistir ao autoritarismo e ao arbítrio. É o direito democrático de enfrentar a falta de diálogo por parte dos golpistas nos encaminhamentos de temas vitais para a juventude e para a nação. A rebeldia é da natureza da juventude”.
Acompanhando os estudantes ocuparem escolas em várias partes do Brasil, me vem à lembrança uma célebre frase de Leonel Brizola: “Sou como uma planta do deserto. Uma única gota de orvalho é suficiente para me alimentar”.
Vivemos tempos obscuros, em que a democracia sofre constantes ataques de um governo ilegítimo e autoritário.
Vejo nas ocupações uma luz de esperança. Esperança esta como verbo e não como substantivo, pois o verbo “esperançar” tem o significado de ir atrás, buscar, ter persistência, lutar. Lutar em meio ao deserto em que o Brasil mergulha.
Considero legítima a forma de ser ouvido. As ocupações demonstram uma resistência importante contra o arbítrio que se impõe ao nosso povo, e não compreender isso é asfixiar e criminalizar o senso crítico de uma geração que enxerga corretamente na luta política uma forma de mudança.
Estamos caminhando, mais uma vez, ao retrocesso.
Que governo é esse que, em pleno século XXI, coloca metralhadoras contra adolescentes armados de livros, cadernos e ideias?
Que lugar na História merece um governo que algema vários adolescentes como se fossem bárbaros bandidos?
É essa digital que marca esse tempo de ilegitimidade.
Lutamos durante vinte anos contra a ditadura – que derrubou o governo Jango – da Presidência. Muitos morreram, muitos foram torturados, muitos tiveram seus direitos cassados, no qual me incluo. Tudo isso para conquistarmos a democracia e a liberdade. E hoje, vendo essas cenas lamentáveis, rememoramos as páginas mais repugnantes de nossa história.
Entretanto, a primavera que os bravos estudantes brasileiros estão demonstrando, também nos faz lembrarmos grandes ícones da resistência e da luta democrática. Hoje, floresce em todo o Brasil uma demonstração de ânimo e vigor, de ousadia que se movimenta e encara de forma altiva as medidas autoritárias e restritivas de direitos tomadas pelo governo.
A proposta de reforma do Ensino Médio, – antiga PEC 241 e atualmente PEC 55 – é uma afronta aos estudantes e ao povo brasileiro.
Quem deve desocupar são aqueles que ocupam de forma ilegítima a Presidência da República e o Ministério da Educação. As escolas pertencem aos estudantes.
A educação deve estimular o senso crítico, necessita ter memória social e deve discutir questões de gênero.
O desejo retrógrado de acabar com a Sociologia, Filosofia, Artes Cênicas e Educação Física é um conceito arrogante de quem não consegue conviver com a democracia e a crítica. Precisamos de uma reforma educacional, entretanto, ela deve ser objeto de ampla discussão com estudantes e professores.
Devemos discutir a escola de tempo integral mais humanista e calçada em valores de emancipação de nossa juventude, em sua liberdade na construção de uma nação soberana e desenvolvida. Assim, deve ser o que norteia um governo responsável e preocupado com as novas gerações.
Prefiro ficar ao lado dos estudantes e suas legítimas ocupações, afinal eles são as gotas de orvalho do deserto que fazem florescer a primavera que nos alimenta.
*Manoel Dias é ex-ministro do Trabalho e Emprego, secretário-geral Nacional do PDT e presidente da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini.