FLB-AP celebra 70 anos das Ligas Camponesas com lançamento de cartilha sobre Francisco Julião


Wellington Penalva
24/04/2025

Material produzido pelo CMT será apresentado em dois eventos realizados neste final de semana em Pernambuco

 

O legado de Francisco Julião e das Ligas Camponesas será lembrado em dois eventos realizados em Pernambuco nesta semana. A iniciativa marca os 70 anos do movimento e lança a cartilha dedicada ao líder trabalhista, produzida pelo Centro de Memória Trabalhista (CMT), da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (FLB-AP). O CMT é parceiro nas atividades, ao lado da Juventude Socialista (JS) e de núcleos locais do PDT.

O primeiro evento acontece no dia 25 de abril, no Recife. O debate “Na Lei ou na Marra: 70 anos das Ligas Camponesas” será realizado a partir das 18h, no auditório G1 da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). A atividade é organizada pela JS do PDT, ao lado da Reinventar a UNICAP e do PDT Recife. É esperada a presença de militantes, estudantes, movimentos sociais e pesquisadores.

“As Ligas Camponesas foram o único movimento agrário, até então, a conseguir realizar uma reforma agrária em nosso país. […] A juventude deve assumir o legado de todos que construíram as Ligas, como Francisco e Alexina, e se inspirar em suas lutas”, afirma Mariana Lessa, vice-presidente da UNE, membro da JS e organizadora do evento.

No domingo, 27, o município de Vitória de Santo Antão recebe o segundo encontro. A partir das 9h, será realizado um ato no Engenho Galiléia — marco histórico do surgimento das Ligas Camponesas — com presença de representantes da FLB-AP, lideranças locais e movimentos do campo. Na ocasião, será feita a entrega da cartilha “Francisco Julião” como forma de homenagem ao ex-deputado e à sua trajetória de luta.

Francisco Julião teve papel central na organização das Ligas Camponesas durante os anos 1950 e 1960. Como advogado e deputado federal, foi uma das vozes mais atuantes na defesa dos trabalhadores rurais, denunciando as condições precárias impostas pelo latifúndio e articulando propostas de reforma agrária em diálogo com o então presidente João Goulart. Sua atuação política e social tornou-se referência para o Trabalhismo brasileiro.

A cartilha sobre Francisco Julião integra a série Memórias Trabalhistas, iniciativa editorial do CMT que busca resgatar figuras históricas ligadas ao Trabalhismo e à luta popular no Brasil.

A maior força na luta por reforma agrária no Brasil

As Ligas Camponesas surgiram na década de 1950 como o principal movimento de organização dos trabalhadores rurais no Brasil – até hoje, o mais efetivo. A partir do Engenho Galiléia, em Pernambuco, camponeses começaram a se mobilizar contra as condições precárias impostas pelo latifúndio, enfrentando o coronelismo, a exploração e a ausência de políticas públicas voltadas ao campo.

Sob a liderança de Francisco Julião, advogado e deputado federal pelo PTB, as Ligas ganharam força e se espalharam por vários estados do Nordeste e do Sudeste. Trabalhista, defensor das Reformas de Base propostas pelo então presidente João Goulart, Julião articulava a luta pela reforma agrária como parte de um projeto nacional de desenvolvimento, com justiça social e soberania popular.

As Ligas Camponesas foram pioneiras na defesa de uma reforma agrária estruturada, com ações de base, alfabetização política e articulação institucional. Sua atuação influenciou profundamente o debate sobre os direitos dos trabalhadores do campo e inspirou movimentos populares por todo o país.

O golpe civil-militar de 1964 interrompeu esse processo. A repressão foi imediata e violenta: líderes presos, organizações desmontadas e milhares de camponeses perseguidos. Ainda assim, a experiência das Ligas permanece como referência histórica da organização popular rural e da luta por direitos sociais. É também um capítulo essencial da história do Trabalhismo brasileiro.

Cartilha resgata a história e o legado de Francisco Julião

O Centro de Memória Trabalhista (CMT) do PDT lança mais uma edição da série Memórias Trabalhistas, desta vez dedicada a Francisco Julião, símbolo da luta camponesa no Brasil. A publicação será distribuída nos eventos comemorativos dos 70 anos das Ligas Camponesas, em Pernambuco, e também ficará disponível na Biblioteca Virtual da FLB-AP.

A cartilha reúne artigos, discursos e registros históricos sobre a vida e a atuação de Julião, destacando seu papel como advogado, deputado federal pelo PTB e liderança das Ligas Camponesas. Com textos assinados por Carlos Lupi, André Figueiredo e Manoel Dias, o material também reforça a ligação de Julião com o Trabalhismo e sua contribuição para o projeto nacional de reformas estruturais defendido por João Goulart.

“O objetivo da cartilha é contribuir para a formação política, trazendo o exemplo de Francisco Julião e o debate sobre a reforma agrária — pauta histórica das Reformas de Base de Jango, que continua atual. A justiça social no Brasil passa, necessariamente, pela democratização da terra”, afirma Henrique Matthiesen, coordenador do CMT.