Começo esse artigo falando da alegria em escrever sobre Leonel Brizola. Minha trajetória política e as concepções de mundo que tenho são bastante inspiradas em tudo que Brizola representa para a política brasileira. Considerado um dos principais líderes de Esquerda que o Brasil já teve, o fundador do PDT, partido que me orgulho em ser filiada, nos deixou há 19 anos, num longínquo 21 de junho de 2004. Lembro que a notícia da sua morte me fez refletir sobre algumas das pautas sociais defendidas durante sua vida: educação de forma integrativa como pilar da transformação social, a luta pelo fortalecimento e valorização da classe trabalhadora e, principalmente, por ser um dos primeiros políticos a falar sobre igualdade de gênero.
Não à toa, o PDT foi o primeiro partido do Brasil a levar para o debate público a questão da igualdade de gênero, colocando, inclusive, essa pauta no seu estatuto. Brizola tinha a certeza de que sem a participação feminina no processo político não haveria Democracia plena. Foi no governo de Brizola, no Rio de Janeiro, que o Brasil teve a primeira mulher negra como secretária de Estado: Edialeda Salgado, que assumiu a pasta da Promoção Social.
Tenho certeza que, se vivo estivesse, Brizola seria uma das vozes mais ativas na luta contra a ascensão da extrema-direita no Brasil e estaria na linha de frente contra o fenômeno da Desinformação e Pós-Verdade, que tumultua e confunde o povo brasileiro com mentiras desde antes da posse do ex-Presidente da República.
Brizola combateria todos esses problemas com Educação! Para ele, a grande revolução social deveria ser feita através de políticas educacionais eficientes e inclusivas. O ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro entendeu que o processo de educar se dá de forma integrativa. Lá no Rio, por exemplo, durante o período em que ele governou o Estado, pela primeira vez se falou em educação em tempo integral. Como Brizola sempre pregou: “A educação é o único caminho para emancipar o homem. Desenvolvimento sem educação é criação de riquezas apenas para alguns privilegiados”.
O entendimento que ele tinha sobre educação era diferente daquele formato tradicional e engessado. Brizola acreditava que a criança deveria chegar cedo na escola, fazer todas as refeições, ser bem cuidada e assistida, mas sempre na sua integralidade. Desde os estudos tradicionais, até aulas de arte e música, tudo foi pensado por ele. O formato foi tão revolucionário para a época que o grande sociólogo Darcy Ribeiro teve participação fundamental na construção dessa política inovadora. Surgiram, então, os Centros Integrados de Educação Pública, conhecidos como “Brizolões”.
É por todas essas virtudes que acredito que Brizola ainda é um nome essencial e de referência dentro do processo democrático em que vivemos, mesmo depois de 19 anos de sua morte. Em tempos de intolerância, Brizola é fundamental!
*Isabella de Roldão é a primeira mulher vice-prefeita do Recife (PE), presidente do PDT no município, advogada, nutricionista e professora.