Preso político, o trabalhista recorda a defesa da democracia desde a “Campanha da Legalidade”
“Essa geração foi de um heroísmo incrível”, classificou Carlos Fayal, preso político e membro da Aliança Libertadora Nacional (ALN), ao analisar a militância que promoveu focos de resistência, no Brasil, contra a ditadura militar instaurada, em 1964, com a deposição do presidente da República, João Goulart.
Aos 74 anos, Fayal relatou a atuação política desde 1961, com a “Campanha da Legalidade”, passando pelo enfrentamento ao golpe concretizado três anos depois, bem como a resistência ao Ato Institucional nº 5, que representou, em 68, o momento mais repressor.
Formado no movimento estudantil, Fayal disse que o agravamento da realidade consolidou o sentimento de insurreição contra o sistema vigente, o que gerou a atuação na clandestinidade, a partir da luta armada.
“A cada passo que a gente tentava fazer alguma coisa, éramos reprimidos violentamente. Primeiro, cassetete e bomba de gás. Depois, tiro”, relatou, com menções ao escritor e inimigo número um do regime: Carlos Marighella.
“Os caras não deixaram outra opção para aqueles que tinham consciência da violência do golpe, sobre todos os aspectos, para o futuro do país”, completou.
Como consequência, ficou aprisionado no Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI). Na memória, momentos dramáticos de tortura extrema, que, segundo ele, quase concretizou sua morte.
“Tive a sorte de ter sobrevivido. Fui muito massacrado”, lamenta, recordando dos colegas eliminados, por décadas, pelos oficiais das Forças Armadas.
“A tortura era algo absolutamente institucionalizada e ligada, do sistema repressivo, à presidência da República. […] Era uma política de Estado. Agora, recentemente, surgiu isso com relação ao Ernesto Geisel”, garantiu.
Retomada
Após anos exilado em países como Argélia, Cuba e Chile, o trabalhista, que ainda conquistou o diploma de dentista, fez questão de ser um dos signatários da Carta de Lisboa, movimento que norteou, em 1979. a reorganização do Trabalhismo, no Brasil, e desencadeou a fundação do PDT.
“A gente precisava de uma liderança e não foi difícil chegar à conclusão que o nome ideal para encabeçar esse processo seria o do Brizola”, disse Fayal, sobre a reunião de lideranças para retorno, ao Brasil, após a anistia.
Entre as pautas prioritárias debatidas, Fayal, que foi um dos organizadores, citou a defesa da educação e dos direitos sociais das mulheres, dos índios e dos negros, além do resgate da história do Trabalhismo, simbolizada por marcos como a carta-testamento de Getúlio Vargas e a reforma de base de João Goulart.
“O Brizola, com a sua genialidade e a maneira fácil de falar para o povo, traduz nos próprios documentos da Carta de Lisboa, o socialismo moreno”, analisou.
“A questão da educação é o ponto central para o desenvolvimento do país. De forma muito clara, o foco na educação integral de qualidade, que nós precisamos e é atualíssimo”, acrescentou.
Acompanhe a íntegra da entrevista: www.youtube.com/watch?v=AK2v0QI8kjw