Fundação Leonel Brizola organiza memórias de Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas no Brasil


FLB-AP/Pernambuco
12/03/2022

Comitiva trabalhista esteve no Sítio Galiléia, berço da Sociedade Agrícola e Pecuária de Plantadores de Pernambuco

O Centro de Memória Trabalhistas, ligado ao PDT, está catalogando documentos e realizando uma série de entrevistas com personagens ligados a história de Francisco Julião, ex-deputado estadual, advogado e líder das Ligas Camponesas no Brasil.

Na última quinta-feira (10), o coordenador do Centro de Memória, Henrique Mathiessen, entrevistou e gravou depoimentos de Anacleto Julião, antropólogo e filho de Francisco Julião com a também militante Alexina Crespo.

“É muito importante deixar vivo na memória a vida de figuras que são marcantes na história de luta pela Reforma Agrária e pela justiça social. As novas gerações precisam conhecer essas lideranças que abdicaram de suas vidas em nome das causas do povo, como Francisco Julião e Alexina”, comentou Matthiesen.

Nessa sexta (11), a comitiva trabalhista, formada pelo presidente estadual da FLB-AP, Pedro Josephi, e do vereador André Carvalho, esteve no Sítio Galiléia, em Vitória de Santo Antão, berço da Sociedade Agrícola e Pecuária de Plantadores de Pernambuco (SAPPP), posteriormente chamada de Ligas Camponesas. Na ocasião, foram recebidos por Seu Zito da Galiléia, descendente dos camponeses que ocupavam a região, e hoje responsável por zelar e cuidar do acervo histórico na biblioteca construída nas terras do antigo Engenho Galiléia. Seu Zito, neto de Zezé da Galileia, é autor do documentário “A Liga que ligou o Nordeste”.

“Rememorar a vida e a luta de Francisco Julião é papel da nossa Fundação. Aqui foi onde primeiro se fez Reforma Agrária na América Latina, onde se demonstrou que o povo unido e organizado consegue mudanças. O Engenho era consistentemente vigiado pela CIA e pelos militares brasileiros no período da ditadura em razão do seu ímpeto revolucionário. Galiléia é história viva do Brasil”, comentou o advogado Pedro Josephi.

 

O material produzido deverá ser lançado pela Fundação Leonel Brizola, por meio do Centro de Memória, no próximo ano com cartilhas, entrevistas e documentário sobre Francisco Julião e Alexina Crespo. A publicação faz parte da série “Memórias Trabalhistas”.

O engenho da Galiléia foi o primeiro caso de reforma agrária do Brasil após a 2ª Guerra Mundial, em 1959. O engenho era de propriedade do latifundiário Oscar de Arruda Beltrão, que chegou a alugar as terras aos trabalhadores após a falência do empreendimento.

Todavia, os camponeses conseguiram a posse das terras após um ato diante do Palácio do Campo das Princesas, em Recife, no final da década de 1950. Quase 10 mil trabalhadores pressionaram o governador Cid Sampaio, que assinou a desapropriação de Galiléia na sacada do palácio do governo, na ocasião. O protesto foi liderado pelo então deputado Francisco Julião.

O nome Ligas Camponesas, ao designar o movimento dos trabalhadores da Sociedade Agrícola e Pecuária de Plantadores de Pernambuco (SAPPP), foi uma tentativa do governo local, na época, para associar os trabalhadores ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), que, na década de 1940, manteve a Liga Camponesa da Iputinga, no Recife.

Apesar de ser confundido como um dos fundadores, o então deputado Francisco Julião não fundou as Ligas Camponesas em Vitória de Santo Antão. O fato foi reconhecido por ele em vida. O deputado foi advogado da SAPPP e se tornou líder do movimento.

Julião foi deputado estadual em duas legislaturas. Eleito deputado federal por Pernambuco em 1962, foi cassado e preso em 1964 pela ditadura militar. Ao ser liberado em 1965, foi incentivado a se exilar. Viajou para o México, onde permaneceu até ser anistiado em 1979. Aliado e amigo de Leonel Brizola, de quem foi assessor, filiou-se ao PDT e tentou ser novamente deputado federal em 1986, sem sucesso. Faleceu em 1999, no México, vítima de um infarto.