Mário Juruna: “Será que índio não pode viver na sua terra?”


Por Bruno Ribeiro

Ao presidir tribunal internacional, cacique Xavante denunciou abusos da ditadura militar do Brasil

Empossado como presidente do 4º Tribunal Russell, em Roterdã, na Holanda, o cacique Xavante Mário Juruna reportou, em 30 de novembro de 1980, “perseguições e assassinatos” da ditadura militar do Brasil contra povos nativos. Mesmo sem legitimidade legal, a iniciativa internacional reverberou as consequências do golpe de 1964.

“Não sei porque ‘as gentes’ sempre pisam nas tribos indígenas. Não sei porque fazendeiros são contra o povo. Será que índio não pode viver na sua terra?”, questionou o pedetista, que foi eleito, em 1982, o primeiro deputado federal indígena brasileiro.

No júri, o Xavante de Mato Grosso, que estaria completando 78 anos nesta sexta-feira (3), abriu espaço de denúncias referentes a abusos sistemáticos, inclusive para exilados. Os fatos representaram violações da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da qual o governo brasileiro foi signatário em 1948.

Como resultado do encontro, um documento final onde o Brasil foi acusado de genocídio e etnocídio, principalmente pela ampliação da invasão, tomada e expropriação de terras indígenas, bem como mortes, escravidão, racismo e violação de autodeterminação para avanço de projetos governamentais.

“Aqui eu soube que todo mundo tem o mesmo problema”, disse o pedetista, ao analisar a conjuntura repressora instalada na América Latina.