Presidente do PDT leva na alma ideologia brizolista e vai lutar para emplacar campanha de Ciro Gomes
O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, cumpriu agenda em Campo Grande nesta semana onde apresentou a Frente “Agora é Ciro” e destacou que o ex-ministro Ciro Gomes é a pessoa mais preparada para assumir a Presidência da República e mudar o Brasil por meio de um projeto de desenvolvimento nacional. Lupi não poupou críticas ao presidente Jair Bolsonaro, e indicou a má gestão, dizendo que o chefe do Executivo é responsável pelas quase 600 mil mortes de Covid-19, pelo desemprego recorde, por alta da inflação, volta da fome no Brasil e extrema desigualdade social. “Estamos em uma luta incessante contra o autoritarismo, o atraso que representa o governo de Bolsonaro, que é o Belzebu dos tempos modernos. É a encarnação do capeta. Um homem do mal que lê a Bíblia invertida”, afirmou durante a coletiva.
Lupi elogiou as marcas do PDT e homenageou os presidentes Leonel Brizola e Getúlio Vargas. Além disso, o ex-ministro do Trabalho, na gestão de Dilma Rousseff, explicou que o partido enxerga, como ameaça à democracia, movimentos de extrema-direita que visam protestar em 7 de setembro.
“Entramos com ação nos 27 estados provocando a Promotoria-Geral de cada estado da Federação para que se apure e verifique a mobilização que alguns segmentos da Polícia Militar estão tendo e tentando fazer do 7 de setembro uma onda golpista. Vamos lutar na política, na Justiça e em qualquer mecanismo no qual eles queiram impedir a democracia. É essencial a luta democrática, independente de partido político, de divergências que possamos ter ou de candidatos que possamos ter. Hoje a grande luta do Brasil é garantir a democracia”, afirmou.
O presidente do PDT destacou que a agenda visa fortalecer o partido. Dentro das possíveis alianças, o deputado federal Dagoberto Nogueira vai conduzir o partido em Mato Grosso do Sul. “Queremos palanque para o Ciro Gomes e para viabilizar a imersão de nomes para chapas de deputados estaduais e federais. Estou aqui no sentido de ajudar o partido a ficar mais forte”, espera.
O Estado: Quais as pretensões do PDT nessas eleições?
Lupi: Estamos com pensamento diferente. É sobre esgotamento de ciclo. O profeta da ignorância que é o Bolsonaro. É essa direita raivosa, essa gente que não respeita as diferenças, essa gente que trabalha com violência e com raiva; essa gente que sempre tem ódio. E temos o ciclo que foi representado pelo ex-presidente Lula e que já teve um resultado bom para o Brasil, mas que não pode se repetir. Porque, ao mesmo tempo que teve um resultado bom – o acesso das pessoas, melhorou a renda, o emprego, o Brasil tinha mais respeito na sociedade –, é um ciclo que já foi. E a sociedade não pode olhar para o que já aconteceu, deve olhar para o que pode acontecer. Então, estou convencido de que vamos ter, neste segundo turno, uma disputa entre o Lula e o Ciro. Acredito nisso porque tudo que está acontecendo no Brasil, como a recessão, o desemprego, a inflação e principalmente essa pandemia que está batendo as portas de quase 600 mil vítimas, não vai ficar impune. Tenho certeza de que Bolsonaro vai sair da Presidência para a cadeia. Anota isso, e depois me cobre. Foram crimes como desrespeito à ciência, falta de compras de vacinas em momento adequado, contaminar a população não usando máscara, incentivar a ignorância, e isso não pode ficar impune.
A população também começa a cair a ficha da realidade. Porque agora acontece uma segunda etapa em que aqueles que não tomaram a vacina e recusaram por essa ideologia negacionista estão começando a se contaminar e a morrer. Infelizmente essa variante delta está pegando principalmente aqueles que não tinham nenhum tipo de vacinação. Isso vai começar a desmistificar, porque, com familiares morrendo, amigos morrendo, a tese do Bolsonaro vai cair. Isso já começa a acontecer e eu acredito que isso também deve desmanchar essa candidatura. Acredito que vamos ter disputa entre Lula, que vai continuar sendo um candidato forte, mas sem esses 40% que tem porque ele está no auge um ano antes. E daqui a um ano será outro momento.
O Estado: O chamado Brizolismo ainda persiste dentro do PDT, ou a situação é diferente?
Lupi: Ainda está, sim. O brizolismo é uma tese, eu digo sempre que as ideias não morrem. As ideias são fecundas. Na verdade, temos discutido o “getulismo”, que começou na década de 1930 com Getulio Vargas. Isso era um projeto de desenvolvimento nacional que o Ciro hoje faz com o seu projeto de desenvolvimento para o país. É um projeto para fortalecer a indústria nacional, avançar com tecnologia de ponta. E o que foi o Brizola, se não o continuador dessas ideias? Um avanço. Quando o Brizola volta do exílio de 15 anos, já que ele foi um dos brasileiros mais perseguidos e tem mais de 280 anos de condenação pela Justiça Militar, e depois foi absolvido de todos, ele tem ideias. Ele contestava o autoritarismo do regime militar. E, quando ele volta do exílio, sua prioridade foi educação com escola de tempo integral, onde a criança tinha cinco refeições, dentista uma vez por semana e oftalmologista. Foi descoberto neste processo que 30% das crianças tinham baixo rendimento e até não aprendiam a ler porque não enxergavam bem. Não era por deficiência ou qualquer outra coisa, era um problema simples e que com esse projeto teve solução. Era um tipo de escola de Primeiro Mundo e para quem precisa, que é um povo mais humilde e trabalhador. Então, o brizolismo é uma corrente de pensamentos que defende um projeto de nação cuja prioridade absoluta seja a educação do nosso povo e o trabalhador que constrói a nação. Essas são as pedras em que nós nos movimentamos e andamos. Acredito que essas pedras vão voltar na oportunidade, quando o Ciro for presidente e apresentar com muita dignidade essas ideias.
O Estado: A bandeira socialista é vista de que maneira para o eleitor brasileiro?
Lupi: Acho que o que a gente sempre defendeu é o que Brizola chama de “socialismo moreno”, que é uma concepção de sociedade que não admite miséria, que não admite criança abandonada, que não admite idoso desrespeitado depois de ajudar a construir a nação. Eu convivi e tive a oportunidade que Deus me deu de conviver com o professor Darcy Ribeiro [que foi ministro da Educação no governo do presidente João Goulart entre 1962 e 1963 e foi chefe da Casa Civil de 1963 a 1964], que foi um dos maiores mentores e maiores intelectuais deste Brasil. E ele dizia algumas frases muito importantes que eu vou sintetizar. Ele dizia o seguinte: que ele perdeu tudo que investiu na vida. Quis fazer uma cidade de Primeiro Mundo e com a cidade de Brasília, e fracassou porque terminaram com ela. Quis e foi conviver durante dez anos com os índios e fracassou porque os índios continuaram acorrentados, não na corrente física, mas na corrente da discriminação. Ele quis construir escolas de qualidade com modelos de Brizola e foram mais de 503 colégios desse tipo construídos no Rio de Janeiro, mas o governo seguinte acabou com elas. Ele fracassou em quase tudo que tentou, mas ele jamais gostaria de estar ao lado daqueles que o venceram. Quem venceu? Venceu a mediocridade e o egoísmo. E isso é o que temos de pensar neste mundo de hoje. Qual é o desafio? O socialismo que a gente imagina, que é o “socialismo moreno” de que Brizola falava, é uma sociedade sem privilégios, sem discriminação e uma sociedade que não tenha uma criança abandonada. Enquanto existir uma criança abandonada e você não vir uma bicicleta abandonada, porque por mais que esteja enferrujada vale algum dinheiro. Você não vê vaca abandonada, galinha abandonada, mas você vê criança abandonada. Essa sociedade tem de ser erradicada do mundo moderno. Para isso, a solução é a educação. É o único caminho da salvação para esta sociedade.
O Estado: O partido foi um dos principais do Brasil, mas tem perdido espaço; ao que atribui?
Lupi: A política é uma das ciências mais difíceis de o ser humano viver. Ela não é uma ciência exata, não é uma conta de matemática ou aplicação na bolsa. A política é feita pela sociedade, por seres humanos, por erros, acertos e falhas. Temos as nossas falhas também. Mas temos uma coisa muito importante no coração, que é o amor pelo Brasil. Somos patriotas. Acreditamos que a nação nasceu para ser uma referência no mundo. Acreditamos que o país tem de parar de ser desigual e eu sou daqueles que acreditam que os partidos políticos são os únicos instrumentos da democracia moderna que podem representar a sociedade. O que está em crise são os partidos e que nada mais são do que “reflexos da sociedade”. Na análise profunda, vemos que os valores da sociedade têm a base na família. São valores de respeito, valores de as pessoas valerem pelo que são e não pelo que têm. Valores pela concepção de vida e não pela sua posse ou o seu traje.
O Estado: O ex-governador Ciro é o nome do PDT na disputa presidencial, atualmente é o principal pré-candidato fora da polarização. A ideia é formar alguma união em torno da sua candidatura?
Lupi: Estamos conversando com vários partidos. Mesmo antes da eleição a nossa prioridade tem sido o PSB. Nós fizemos nas capitais as principais alianças com o PSB e saímos vitoriosos em algumas cidades. Ganhamos com o PSB em Aracaju, Maceió, Fortaleza, Recife e perdemos juntos em São Paulo, em Porto alegre, no Rio de Janeiro. Ou seja, nós costuramos uma aliança muito ampla e a tendência disso é avançar. E é claro que com esse resgate do Lula o PSB fica muito bagunçado, mas eu não desisto porque sou brasileiro e não desisto nunca. Continuamos conversando com o PSB para trabalhar por essa aliança. Ao mesmo tempo, há diálogo bom com o DEM, com o ACM Neto, que é o presidente. Já fomos aliados na eleição em Salvador-BA. O ACM Neto fez seu sucessor, que é o Bruno, com a vice do PDT, que é a Ana. Estamos avançando com conversas em vários estados e eu estive em uma delegação do DEM em Pernambuco. Estamos com boas possibilidades no Estado de Mato Grosso. Este momento é um processo em que todos conversam. Temos bons diálogos com o Gilberto Kassab, do PSD, temos com PCdoB. A decisão só vem depois do carnaval do ano que vem.
O Estado: O senhor foi ministro do Trabalho, e recentemente essa pasta voltou a existir. Como avalia uma pasta importante estar vinculada a outro ministério?
Lupi: Em primeiro lugar é que, quando eles acabaram com o Ministério do Trabalho, eles acabaram com uma linha de reivindicação, de debate, de representação da classe trabalhadora e da classe assalariada, que é quem sustenta isso. Quando eles recuam, eles não recuam para dizer que vão voltar com as ideias de uma pasta de representação dos trabalhadores, de melhorias das condições de trabalho, de combate ao trabalho escravo, combate ao trabalho infantil ou de melhoria salarial. Eles criam apenas uma marca fantasia para dizer que tem um Ministério do Trabalho, mas para quê? Qual o objetivo? Quais são os projetos? Como fica o aumento do salário-mínimo e reajustes para os trabalhadores? Como é que vai ficar o diálogo com as entidades representativas com o trabalhador de todos os níveis? Eu não vejo esse governo fazer isso.
O Estado: Que análise faz do atual momento político com a possibilidade de alterações na legislação eleitoral?
Lupi: Acho um absurdo a cada ano antes da eleição se mudar a legislação eleitoral. Acho que isso é desrespeito à cidadania, desrespeito à Constituição e desrespeito à legislação. Nós sequer tivemos tempo desde a última mudança em 2017 de experimentar essa nova lei. Sou contra qualquer modificação. Acho que o Senado deve manter a atual legislação e acho que a gente tem de ter responsabilidade, principalmente os representantes do povo. Não podemos mudar a legislação um ano antes da eleição conforme a nossa conveniência. Tem de respeitar o povo.
O Estado: Hoje qual a importância de MS no cenário político nacional?
Lupi: A gente sabe que em Mato Grosso do Sul uma parte considerável da população acabou se enganando com o Bolsonaro. É hora de se resgatar. Deu para notar que Bolsonaro é um péssimo presidente. A inflação está batendo à porta, o desemprego, o negacionismo, o Brasil é desrespeitado hoje no mundo e acho que o começo dessa recuperação do Estado é votar em alguém que tenha preparo, experiência e que tenha uma vida limpa e íntegra, como é o caso do Ciro Gomes. A gente aposta muito neste projeto de desenvolvimento.
(*Texto: Andrea Cruz e Alberto Gonçalves)