Para o pedetista, a proposta de Bolsonaro quer repassar aos servidores o impacto dos erros do governo
“Reforma administrativa mentirosa”, classificou o pré-candidato a presidente da República pelo PDT, Ciro Gomes, nesta segunda-feira (5) durante seminário virtual promovido pela Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB). Para ele, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 32/20, do governo Bolsonaro, é mais uma ferramenta para subtração de direitos e depreciação do Estado. “A culpa é do servidor público?”, indagou.
Em conjunto com o presidente nacional da CSB e do PDT na capital paulista, Antonio Neto, o ex-governador do Ceará alertou para a potencialização do impacto negativo do pacote neoliberal, encaminhado ao Congresso Nacional, diante da essência do servidor e da atual conjuntura econômica, social e política.
“As coisas no Brasil, se não fosse o serviço público, seriam muito mais traumáticas e graves”, ressaltou, ao mencionar a dedicação dos profissionais da Saúde no enfrentamento da Covid-19, mesmo com a precariedade da infraestrutura e do volume da mão de obra do sistema.
“O motivo do setor público não é o lucro, mas o bem-estar social. Com as contradições, como toda obra humana, precisam destruir essa entidade para que o Estado saia do meio e o mercado se aproprie de todas as energias. Para isso acontecer, é preciso desmoralizar duas coisas: servidor público e política”, relata.
Considerando a chantagem feita pelo “maior desgoverno” já visto no Brasil, Ciro mencionou os valores e prazos da dívida pública e o déficit primário como indicativos de um prejuízo que Bolsonaro tenta se eximir. E uma das saídas elaboradas pelo ministro da Fazenda, Paulo Guedes, é atingir o servidor para torná-lo fiador dos erros.
“O governo brasileiro, interditado pela incompetência do Bolsonaro e pela interdição ideológica do Paulo Guedes, não quer discutir a receita. O déficit de 900 bilhões de reais acontece porque 238 bilhões de reais foram para o socorro emergencial, que diminuiu pela metade a queda da economia brasileira”, detalhou, lembrando que 40% do auxílio voltou para a União em impostos e a receita regrediu R$ 232 bilhões.
Fatores vinculantes
Ao mencionar os 40 milhões “empurrados para a informalidade”, o pedetista também destaca o número de desempregados na composição da maior fatia da mão de obra brasileira – com cerca 60 milhões de cidadãos vulneráveis – diante do caos consolidado em todas as regiões com a evolução do coronavírus.
“Eu digo a todos, sem nenhum exagero ou medo de errar: é disparada a pior crise social, econômica e fiscal da história brasileira. Alguns números demonstram isso. Primeiro, o Brasil tem, hoje, 14,3 milhões de pessoas abertamente desempregadas. Nunca houve um número parecido”, apontou, ao completar: “O Brasil tem quase 6 milhões de pessoas que o IBGE chama de desalentadas. São ‘irmãos’ nossos que desistiram até de procurar um emprego de tanta frustração”.
Com relação às empresas, foi alcançado, segundo Ciro, a maior estatística de pedidos de recuperação judicial registrado, além da recorrente retração da produção e da capacidade industrial. Situação ocasionada, no entendimento do pedetista, pois o governo escolheu direcionar R$ 1 trilhão para os bancos em detrimento do suporte direto aos empresários impactados pela pandemia.
“6 milhões de empresas. É o verdadeiro genocídio das micro, pequena e média empresas. Elas estão com o nome no Serasa, que é a antessala da recuperação judicial e da antiga falência”, ressalta, em um paralelo com o atual poder de compra do salário mínimo, que é o menor dos últimos 16 anos.
A série regressiva desemboca, portanto, na queda, em dólar, de 25% da economia brasileira no ano passado. Isso gera também prejuízos nas classes mais altas, que operam o mercado financeiro.
“Os ricos fazem conta em dólar porque tudo, mais cedo ou mais tarde, acompanha o valor do dólar. A riqueza brasileira encolheu 25%. É o tamanho da perda da bolsa de valores. Quando a gente vê os ricos assinando manifestos denunciando os descalabros do Bolsonaro, é porque na bolsa, onde os ricos especulam, eles perderam 25%”, explica, perante a maior fuga de capitais no Brasil.
Solução
Como alternativa concreta, Ciro sustenta, além do impeachment de Bolsonaro, a apresentação e aprimoramento do Projeto Nacional de Desenvolvimento (PND), que foi construído na disputa eleitoral de 2018 com a contribuição coletiva de centenas de especialistas brasileiros.
“Por que eu repito tanto isso? Porque cada palavra dessa [PND] é uma resposta prática para um punhado de perplexidades e conflitos dos quais nós estamos apanhando”, afirmou.
“Isso que eu chamo de projeto. É um diagnóstico correto em um plano para que o povo brasileiro bote nele o que quer para si e para seus filhos no futuro. Dali a gente tira quanto custa e vamos para o grande debate de dividir a conta”, acrescentou, mencionando a desigualdade social progressivamente ampliada.
As posteriores mesas de debate contaram ainda com as participações de diversas lideranças do campo progressita, incluindo o deputado federal André Figueiredo (PDT-CE) e o coordenador do programa de governo de Ciro em 2018, economista Nelson Marconi.