Há exatos 70 anos, Getúlio Vargas era reconduzido à presidência da República nos braços do povo. Venceu pelo voto com seu projeto nacional-desenvolvimentista que valorizava o trabalhador, fomentava a indústria e fortalecia a soberania nacional. Sua política voltada às camadas mais baixas da sociedade brasileira lhe rendeu oposição virulenta combatida, em última instância, com o auto-sacrifício.
Vargas fora deposto em outubro de 1945, mas deixou a chefia do País de forma pacífica, mantendo seus direitos políticos. Com o fim do Estado Novo, retornou à política partidária se elegendo senador pelo Partido Social Democrático (PSD), no mesmo ano. Em 1950, lançou-se candidato à presidente pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – origem do PDT. A campanha foi um sucesso e lhe rendeu ampla vitória: 48,7% dos votos, 20 pontos a frente do segundo colocado.
Seu retorno ao mais alto posto do País, por meio do voto popular, cinco anos após ter deixado o cargo como ditador, foi um expressivo sinal de que o povo brasileiro apoiava a política varguista. E Getúlio Vargas realizou o impensável nesse último mandato marcado pela crise política gerada pelo rancor dos oposicionistas derrotados em 1950 e pela crise econômica do pós-guerra.
Foi justamente no segundo Governo Vargas, em 1953, que o Brasil viu nascer sua maior e mais importante estatal até hoje, a Petrobrás. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), atual Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), também foi fundado nesse período – em junho de 1952 –, assim como o Banco do Nordeste, criado no mês seguinte. Além disso, o político trabalhista regulamentou o trabalho do menor aprendiz e aprovou a lei de liberdade de imprensa.
Além do fortalecimento do Estado, a política social de Vargas também incomodava seus opositores. O reajuste do salário mínimo em 100%, realizado pelo ministro do Trabalho João Goulart, foi um dos motivos para que civis e militares antigetulistas articulassem o golpe.
Na iminência de ser deposto pela segunda vez, numa atitude extremada e assustadoramente consciente, Getúlio atira contra o próprio peito. Seu gesto de auto-sacrifício foi determinante para a manutenção das conquistas que obteve ao longo daquele mandato. O suicídio também gerou comoção popular, prorrogando em 10 anos o golpe militar que se desenhava.
Hoje, 70 anos após a posse de um Governo que contra todos os prognósticos deixou legados indissociáveis da própria identidade nacional do século XXI, o Brasil é desmontado pelos mesmos opositores que levaram Vargas a morte. Ao povo sobra a vontade de comemorar um “31 de janeiro” novamente.