Há 66 anos, o povo brasileiro experimentou a impressionante e surpreendente despedida do líder que ousou tirar o Brasil do ostracismo, da condição de um país continental e de grande poderio que apenas e tão somente vivia da exportação de commodities.
Alguns comemoraram a repentina e ousada morte de Getúlio Vargas, supondo que seu inimigo maior estaria calado para sempre. O povo trabalhador que com ele vislumbrou futuro viveu e experimentou dignidade, derramou lágrimas de muita dor e sofrimento. Esta importante divisão de olhar e sentimentos perdura até os dias de hoje.
O tão almejado sonho dos que lhe foram duros algozes, silenciá-lo para sempre, jamais foi atingido, e não será.
A ideia aqui não é trazer a discussão sociológica da formação da nossa sociedade, mas nada se pode dizer de verdadeiro sem que se aponte a transformação trazida e concretizada por Vargas em seus governos, e precisamos delas para manter viva, não só a tradição dos trabalhistas, mas o sonho do Povo Brasileiro de ter uma Nação Forte com um lugar para todos.
Vargas implantou na Revolução de 30, a que mudou o Brasil, o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e com isso, o Estado brasileiro passa a desenvolver o país, com estes três segmentos sociais indissociáveis e que, quando caminham em conjunto e de forma estruturada, promovem o desenvolvimento da sociedade como um todo, permitindo assim, a realização do sonho de todos. Eis aí o fundamento do Trabalhismo Brasileiro.
É neste momento que o trabalhador brasileiro passa a ser sujeito de direitos, e como tal, distancia-se do trabalho precário que o mantém em situação de escravidão, ainda que com outro nome.
Ainda hoje o trabalhador luta para sair do sistema escravizante com novas e modernas denominações que, entretanto, só objetivam mantê-lo precário, explorado, desvalorizado, objetificado, vida nua: sem sonhos, sem desejos, sem futuro.
Nasci a menos de década após a morte de Vargas e aprendi com meus antepassados a importância dele na vida deles. A madrinha, órfã de pai, que iniciou a trabalhar muito jovem disse-me certa feita “ah, minha filha, só depois de Vargas e da Carteira de Trabalho é que a gente passou a ter algum direito, só então a gente pode ter férias, por exemplo”. Na época dessa conversa, que ainda lhe escuto a voz, eu já era trabalhadora, bancária, uma profissão desde sempre regularizada pela CLT.
Meus estudos em ciências jurídicas e sociais e a atividade profissional foi me conduzindo para o maravilhoso mundo da advocacia trabalhista. E sim, leio e estudo, atualizo sempre, e quanto mais estudo, leio e pesquiso, mais tenho certeza da importância do legado de Vargas para o Povo Brasileiro.
Em nenhum momento se estruturou a sociedade de tal forma que oportunizasse que a classe trabalhadora tivesse vislumbre de futuro e progresso, que oportunizasse o estudo dos filhos, que adquirisse a tão sonhada casa própria, que o trabalho não fosse apenas o sustento mas a identificação de uma Pessoa valorizada, honrada, com um lugar na sociedade.
A morte de Vargas propiciou que o Presidente JK desfrutasse da organização conquistada e desse amplitude à industrialização anteriormente iniciada, posteriormente, Presidente Jango, de igual ideologia e projeto de Vargas, dá continuidade ao trabalho, e reconhece novos direitos ao trabalhadores.
Os governos militares que deram continuidade ao golpe de 64 desfrutaram da industrialização projetada por Vargas, mantiveram os direitos trabalhistas fragilizando relações, sacrificaram um tanto da representação sindical, mas, pode-se dizer que o trabalhador manteve-se vivo, boiando em alto mar revolto.
Vinda a redemocratização, novas lideranças pretenderam se estabelecer relativizando a história escrita por Vargas, grandes esforços fizeram para esmaecer seu colorido. O resultado disso vivemos hoje: O retrocesso da retirada de direitos do trabalhador. Indústria e Comércio não mais conversam, nem entre si, muito menos com o Trabalhador. Inexiste conjunto e com isso, nenhum projeto de desenvolvimento para a sociedade brasileira. Nem mais Ministério do Trabalho existe. Ousaram como nunca.
O Povo Brasileiro sofre a cada dia o resultado das perdas, o abandono, a desesperança, a desestrutura das cidades, da comunidade, a inexistência de trabalho regular, e vislumbra com amargura a possibilidade de, sequer, trocar o grande esforço do trabalho por um prato de comida. O desamparo está presente.
Mas nós estamos aqui, juntos o PDT mantém com honra a tradição trabalhista, os valores que a norteiam e, bradamos a todo o Povo Brasileiro: “Trabalhadores do Brasil, nós estamos do vosso lado, para falar com a familiaridade amiga dos tempos de Vargas, e que se os senhores nos derem a honra de caminhar novamente ao vosso lado, vamos defender os interesses mais legítimos do nosso povo e promover as medidas indispensáveis ao bem-estar dos trabalhadores.”
Este texto é um convite à reflexão. Nas palavras do Dr. Collares, trabalhista que governou Porto Alegre e o Estado do RS, “O voto é tua única arma, põe o teu voto na mão”.
*Renata Gabert de Souza é advogada, integrante da Comissão Especial da Advocacia Trabalhista OAB/RS, membro dos Diretórios Estadual e Nacional do PDT, integra o Movimento dos Advogados, e membro da Comissão de Ética da Ação da Mulher Trabalhista (AMT-RS).