No ‘Trabalhismo na História’, jornalista ratifica o necessário inconformismo no campo progressista
“O Brasil tem jeito, sim. E já teve nos anos que se seguiram a Revolução de 30 e o início da Era Vargas”, afirma, José Augusto Ribeiro, na correlação com os direcionamentos apresentados no livro “Projeto Nacional: O Dever da Esperança”, de Ciro Gomes. Durante a entrevista de estreia do projeto ‘Trabalhismo na História’, do Centro de Memória Trabalhista (CMT), o jornalista e escritor analisou o momento do Brasil e a importância da retomada do caminho desenvolvimentista já configurado com sucesso no último século.
“É o manual para as inconformados. Ou seja, para as pessoas que não se conformam com a situação que nós estamos vivendo, muito agravada agora pela Covid-19 e por toda a desumanidade que está cercando tudo isso”, afirma, ao ratificar a definição do filósofo, Roberto Mangabeira Unger, no prefácio da obra lançada, em 2020, pelo vice-presidente nacional do PDT.
Autor da trilogia “Era Vargas”, José Augusto relata ao coordenador do CMT, Henrique Matthiesen, sua visão de que é fundamental não só um sentimento de inquietação, mas também um movimento nacionalista e progressista consistente para promover as efetivas mudanças que o país precisa.
“Hoje, pela via pacífica e eleitoral, que é a trilhada pelo Ciro, nós vamos conseguir. E a sugestão inicial dele é essa: precisamos de um plano de recuperação semelhante ao de Getúlio Vargas em seguida da Revolução de 30”, comentou, ao valorizar o legado de ícones do Trabalhismo, como João Goulart e Leonel Brizola.
Pilares das ações de Vargas, a soberania nacional, os direitos sociais e a industrialização ressurgem com centralidade no Projeto Nacional de Desenvolvimento (PND), que sintetiza o perfil do plano de governo proposto por Ciro desde a última eleição presidencial, em 2018, e segue em construção e aprimoramento para 2022.
“Ciro elenca quatro setores industriais que precisam ser recuperados e, em seguida, fala da construção civil, que é um setor que ocupa muita mão de obra e contribuiria muito para reduzir o desemprego, em paralelo com a vontade de acabar com déficit habitacional brasileiro, a partir de uma reforma urbana, e de melhorar a qualidade do transporte público para as camadas populares”, relata.
Realidade
Sobre a crítica ao neoliberalismo, o escritor, que é defensor da conjuntura intervencionista do Estado como força motriz do progresso, ratifica à Matthiesen a importância da presença do poder público, principalmente em momentos de profunda adversidade, como é constatado na pandemia do coronavírus.
“É inevitável a participação do Estado no desenvolvimento do país. Não há exemplo de um país crescer economicamente e se transformar em uma grande potência sem a intervenção estatal, a começar pelo Estados Unidos, desde o Relatório sobre Manufaturas do primeiro secretário do Tesouro, Alexander Hamilton”, pontua, ao citar o documento, de 1791, que desembocou na sua primeira política industrial soberana e garantiu a independência absoluta.
Diante da busca pela ruptura da subserviência internacional, o entrevistado mostra seu descontentamento com a atual situação que o Brasil foi colocado. Ao passo que a taxa de industrialização é reduzida a cada ano, o nível de dependência externa fica mais latente, vide, segundo ele, a importação até de produtos manufaturados de pouco valor agregado.
“Fico indignado e inconformado, mas também esperançoso porque vai ter que mudar. A Covid-19 revelou, para quem não sabia, a importância do SUS, que está aguentando a pandemia, no Brasil. Não é a medicina privada. E esse sistema está no mesmo paradigma que nos levou a criar a Petrobras: servir ao povo”, disse.
Inspiração
O jornalista fez questão, durante o debate, de construir um recorte que aborda a nacionalização e de fortalecimento do Estado por Vargas em um cenário internacional instável. Protagonista, o presidente trabalhista colocou as reservas de petróleo como propriedade pública, na década de 40, e, consequentemente, criou a Petrobras, em 3 de outubro de 1953, consagrando a histórica campanha ‘O petróleo é nosso’.
Diante do processo de cancelamento das concessões dos poços, que estavam sob controle de empresas americanas, e da política externa com o governo dos Estados Unidos, na época presidido por Franklin Roosevelt, José Augusto Ribeiro descreve a influência varguista nos caminhos adotados pelo governo democrata, contrapondo, em sua totalidade, à rotina propagada por Jair Bolsonaro, quase 100 anos depois.
Entre os marcos, a implementação do ‘New Deal’, série de programas para recuperar e reformar a economia norte-americana em função da ‘Grande Depressão’ – também conhecida como Crise de 1929 -, e a superação dos impactos da Segunda Guerra Mundial, que ocorreu de entre 1939 e 1945.
“Roosevelt assumiu o governo dos Estados Unidos, em 1933, e Getúlio, o do Brasil, em novembro de 1930. Quando o americano chegou à presidência, Vargas já tinha feito boa parte da legislação trabalhista, o decreto do petróleo, além de ter anunciado o projeto siderúrgico”, explica o jornalista, ao relatar declarações públicas do gestor norte-americano, inclusive durante visita ao Rio de Janeiro, sobre a influência da Era Vargas no ressurgimento do seu país após a maior crise do capitalismo no século XX.
“Um grande presidente americano que recuperou a economia e iniciou um grande programa reforma social e de resgate dos direitos trabalhistas”, acrescentou.
Confira o programa, na íntegra:
https://youtu.be/FfsJ2Nt5Ogs