PDT, 40 anos de um caminho antropofágico


Por Everton Gomes
19/06/2020

O ano de 1980 foi, para nós, o rito de passagem entre a ruptura e a continuidade dos ideais trabalhistas. Brizola era nossa figura-síntese: mais que líder; uma espécie de guarda-chuva que abrigava todas estas tendências – sendo influenciado e influenciador, em uma quase perfeita osmose política.

É sempre bom lembrar que temos 40 anos; atingimos a maioridade, portanto. Inserimos-nos na quadra contemporânea da política, porque, embora sejamos a continuidade histórica do PTB de Vargas, Pasqualini e Jango, demos ao Trabalhismo um viés de filiação ao socialismo democrático.

Somos uma construção autóctone, mas que se agrega à grande corrente da família socialista internacional. Se não somos marxistas clássicos, também não somos antimarxistas: por aqui recebemos prestistas, terceiro-mundistas, libertários, social-democratas, anti-imperialistas, verdes; e os que mais vierem, pela esquerda, em reforço às nossas principais bandeiras.

Em síntese: agrupamos todos estes, sem qualquer dúvida, imbuídos do sentimento de mudar o Brasil; indignados com os descaminhos nacionais construídos pelas mãos de uma elite tacanha e entreguista; e os que sonham com uma Nação igualitária para nossos filhos e netos.

Brizola teve a capacidade de reinventar o Trabalhismo sorvendo as diferentes contribuições daqueles que, há quatro décadas, fincaram as raízes do pedetismo. E ampliou este universo ao ouvir e escutar, com regularidade, aqueles que os poetas definem como sal da terra: porteiros, camelôs, domésticas, taxistas.

Assim, consolidou o projeto nacional varguista entre nossas fileiras, especialmente pela capacidade de encampar o amor pela pátria. Fez da perspectiva reformista de Jango uma bandeira de luta perene, alcançável através do esforço coletivo de todos nós – pedetista e companheiros dos partidos irmãos.

Dentre todas (das quais destacamos a defesa da democratização da terra e o combate à espoliação internacional pela regulação de remessas de lucros aos países centrais), Brizola ousou fincar uma bandeira de possível realização imediata; e a concretizou (ou, pelo menos, semeou). Na educação, apontava os caminhos para lutas do presente; sempre dizendo que sua realização, ao garantir escola em turno integral para milhares de jovens brasileiros, construiria um futuro melhor ao povo brasileiro.

Nesta longa caminhada, estiveram conosco: Prestes, Julião, Darcy, Theotônio dos Santos, Wagner Teixeira, Ruy Mauro Marini, Abdias, Juruna, Moniz Bandeira, Bayard Demaria Boiteux, Caó, professor Loureiro. E todos – juntos – bebemos nas águas de Júlio de Castilhos, Sérgio Magalhães, do ISEB, das lutas dos negros americanos por direitos civis e de uma mulherada valente e guerreira, que tem como símbolo Therezinha Zerbini, que defendeu incansavelmente a superação da ditadura com a luz da liberdade.

Mas não paramos por aí. Influenciaram-nos os ambientalistas (os fundadores e os contemporâneos), os cepalinos, e muita mais muita gente do povão.

Mas toda esta luta, toda a colaboração intelectual, toda esta organização partidária não seria vitoriosa sem que houvesse eco. Neste campo, se torna imprescindível destacar que, por aqui, fizemos do grito na praça a apoteose da popular Brizolândia. Estas vozes robustas e calejadas se tornaram o elo importante com o nosso querido povo brasileiro, tão citado e amado pelo líder Brizola.

E hoje, quem somos? Somos o partido de todos estes citados e reverenciados; e de mais um monte de gente: da #TurmaBoa, dos movimentos, da minha aguerrida Juventude Socialista. Somos o Partido do Lupi, do Maneca, da Diversidade, dos EcoTrabalhistas, das organizações comunitárias e dos núcleos de base.

Somos o Partido de muita gente; de gente diferente. Fizemos a opção pelos pobres; e, por aqui, respeitamos todos os credos, cores e orientações. Somos o Partido de trabalhadoras e trabalhadores do Brasil que optaram, lá atrás, em “botar o retrato do velho outra vez” – ato imortalizado na música de Haroldo Lobo e Marino Pinto. E de seus filhos, netos e bisnetos que percorreram o Estado, em 1982, com “Brizola na Cabeça”.

Somos o Partido que hoje é inundado por uma juventude brilhante, que luta e que sente o desejo de virar a mesa e começar um novo jogo que coloque o Brasil no cenário mundial dentre as nações mais desenvolvidas e sustentáveis; mas que isto seja feito com soberania e inclusão social.

Somos o partido do futuro presidente que diz ó xente!, que conhece as mazelas do nosso grande Brasil; que briga e que chora; que fala enrolado para uns, mas sabe como ninguém dar o recado!

Somos o Partido do Ciro que tem ideia, militância e exemplos. Somos o Partido dos jovens universitários e secundaristas que lotam auditórios e anfiteatros para debater, com ele, o momento nacional. Mas que, quando é preciso, inundam as ruas e fazem da luta antifascista e pela Democracia mais um de seus sacerdócios.

Temos o dever da esperança no peito, com muitos sotaques e muitas vezes também defeitos. Somos o Partido do Brasil, do verde e amarelo que defende, com unhas e dentes, as riquezas contra a espoliação e as perdas internacionais. Este é PDT que tem História, presente e futuro.

O PDT é, como dizia meu querido Cazuza, algo alternativo, diferente de tudo. Somos samba, pagode, sertanejo, repente, moda de viola, milonga e chamamé; e por que não dizer: hip hop, rap e rock’n’roll. Somos sanduba natural das praias cariocas, sarapatel e churrasco. Somos o Brasil!

Viva o Socialismo moreno! Viva as reformas de base, a Era Vargas e o PND. Chegou a hora de pensarmos como misturamos tudo isto e colocamos mais um S – de sustentabilidade – para construir a nova normalidade no mundo global pós-pandemia, com inclusão e respeito aos Direitos Humanos.

Somos o PDT dos que partiram e, ao invés de tristeza, nos deixaram exemplos a serem seguidos.

Somos o PDT – o Partido quarentão mais contemporâneo do Brasil.

*Everton Gomes é vice-presidente da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini do RJ e ex-presidente nacional da Juventude Socialista (JS) do PDT.