“Nós queremos a paz, mas temos que nos preparar para a resistência”, afirmou Ciro Gomes durante a primeira ‘Super live com a turma boa’, na última segunda-feira (1). Na transmissão ampliada, compartilhada a partir dos seus canais oficiais na rede virtual de apoiadores, o vice-presidente nacional do PDT defendeu a mobilização contra os avanços antidemocráticos de Bolsonaro, mas indicou a necessidade de prudência ao analisar o momento de promover manifestações de rua, considerando a pandemia do coronavírus e o enfraquecimento do movimento reacionário.
Com o incentivo da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (FLB-AP), incluindo a Central de Mídia Sociais, o debate também contou com as participações dos influenciadores digitais Fayga Oliveira, da plataforma Todos com Ciro e da página Cirão da Massa; Barbudinho, do Folha Impacto; Jota Lima, do canal Jumentin Amarelo, e Hebert Cordeiro, da página Time Ciro Gomes.
Ao avaliar as manifestações de rua, citando o movimento das torcidas organizadas de futebol em São Paulo, Ciro pregou cautela sobre o momento de avançar com este tipo de protesto.
“Hoje, estes cabelos já estão brancos. Talvez seja de ponderar que ainda não está na hora. Se a gente reparar bem, as manifestações pró-Bolsonaro estão assumindo duas características: menores e mais despudoradamente agressivas e caricatas. Se for aperfeiçoar isso, na rua, e começar aceitar provocação e aparecer um cadáver, de lado a lado, talvez aquilo que a gente está querendo fazer funcione contra nós, democratas do Brasil”, relatou.
“Eu não estou afirmando, porque eu não posso tirar a força de heróis, pois estão na luta enquanto nós estamos nos protegendo. Mas se eu puder, como avô, como pai, fazer uma ponderação, falo: não está na hora ainda. Vamos nos proteger, nós amamos a vida. Não vamos dar a ele o pretexto. E amanhã, se eles confundirem nossa prudência com qualquer tipo de vacilação, nós vamos, sim, ocupar o Brasil nas praças, nas ruas, e vamos enfrentar quem quer que seja”, completou.
Cenário
Ao falar do processo de ruptura pregado pelo bolsonarismo, Ciro alerta para a estruturação de movimentos ilegítimos que já incidiram sobre algumas regiões do país, como o confronto, no Ceará, a partir de infiltrações na greve dos policiais militares.
“Bolsonaro está montando uma milícia, porque ele sabe, ou pelo menos desconfia, que as Forças Armadas não o acompanharão nessa aventura”, alerta, ao listar o aparelhamento do governo e o enfraquecimento das instituições públicas.
“Você acha mesmo que os militares vão fazer um golpe para sustentar uma família como a do Bolsonaro? Todos os serviços de inteligência do Exército já sabem as conexões do Flávio Bolsonaro e do entreguismo vassalo do Eduardo Bolsonaro”, acrescentou.
No prosseguimento da análise do cenário nacional, o ex-governador e ministro indicou que a situação demanda, portanto, responsabilidade, “pois são vidas envolvidas nisso”. Para ele, Bolsonaro está querendo criar um ambiente novo, onde tenta derivar a avaliação do povo, que é baseada em premissas como emprego, salário, renda, aposentadoria, saúde, para “as ficções políticas odientas dele, como supremacia racial, que, no Brasil, está abafada, e eles (bolsonaristas) estão aflorando”.
“Ele vai juntando um monte de coisa artificial para distrair uma fração da opinião pública, dando argumento para essa minoria agressiva dele julgá-lo não por aquilo que, de fato, ele é responsável, como pelas mortes e a destruição da economia, inclusive das finanças públicas”, disse.
E tal organização antidemocrática é baseada, segundo ele, na articulação do núcleo central do governo, que conta com militares da reserva na assessoria.
“O gabinete, ao redor do Bolsonaro, com meia dúzia de militares politiqueiros, que tem o fascismo na veia ou mais remotamente a ideia, que vem da República, onde as Forças Armadas tinham a tutela eterna da sociedade brasileira. Não que eu considere que as Forças Armadas profissionais estão escalando o golpe, mas eu sei que no entorno dele essa aventura está claramente posta, como na nota do (general) Heleno, contra a qual eu me levantei prontamente”, explica.
Diante do agravamento das crises, Ciro considera que o presidente da República tende a ficar limitado em função de dois problemas graves na conjuntura nacional.
“Eu vejo que o Bolsonaro tem dois flancos da luta real, do ponto de vista da psicologia da massa brasileira, em que ele está definitivamente derrotado. Primeiro, o enfrentamento da pandemia. O que ele fez de desgoverno e faz, no real e no simbólico por gestos e palavras, para o Brasil virar o epicentro da pandemia mundial. O segundo é econômico, pois ele não tem plano. O (Paulo) Guedes, além de ser ruim e despreparado, tem uma interdição ideológica que é quase tóxica”, relatou.
Confiança
“Os tempos são graves e paradigmáticos. A minha sensibilidade é que o mundo e o Brasil, naturalmente com gravíssimas contradições, estão vivenciando uma probabilidade de uma mudança histórica”, indica Ciro ao abordar o seu novo livro, denominado “Projeto Nacional: O Dever da Esperança”.
Ao ratificar que buscou utilizar uma linguagem simples, para fácil entendimento, o pedetista relembra que cada parte da obra foi pensada, principalmente, para atender a juventude.
“Toda palavra que colocava, eu pensava em vocês, jovens brasileiros. É para vocês entenderem que o país que temos hoje, pro mal e pro bem, não é obra do acaso ou de episódios desconectados. É uma linha histórica que nós estamos experimentando hoje”, comentou.
Sobre a relevância o simbolismo da palavra esperança, Ciro mostra um paralelo da tragédia socioeconômica, política e institucional instalada no Brasil.
“É o mais grave encontro de uma crise de saúde pública e de economia, que não há precedentes, com esse contorno de crise política calorosa, com ameaças, ou pelo menos, tentativas de ruptura do campo institucional”, pontuou.
“Vale a pena ler. Termina confiante. Em uma frase do livro, eu digo: ‘A melhor forma de construir o futuro é construí-lo’. Esse é o grande apelo do livro. Vamos pegar nossa história e construir o futuro do Brasil por nós mesmos”, concluiu.