Uma das frases mais absurdas que ouvi nos últimos tempos veio do ministro da Educação, Abraham Weintraub.
Durante uma reunião de líderes do Senado para discutir a realização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), ele disse que não adiaria as provas, mesmo sabendo que os estudantes mais pobres seriam prejudicados, porque o “Enem não existe para fazer justiça social”. É difícil conversar com um gestor de educação quando ele não entende o papel fundamental da sua área para a redução das desigualdades sociais. No Brasil, 82,4% dos estudantes de ensino médio estão em escolas públicas. Garantir o acesso desses jovens ao ensino superior é um caminho indiscutível para o sucesso do País.
Mas se em tempos normais essa meta já apresenta níveis desiguais de dificuldades para alunos de ensino público e privado, agora, durante a pandemia do coronavírus, a diferença se aprofundou. Com aulas presenciais sendo substituídas pelo ensino a distância, as condições de estudo são muito piores para as famílias mais pobres. Cerca de 2,3 milhões de candidatos ao Enem não tem computador. O índice é pior entre os estados da Amazônia Legal, incluindo o Maranhão, onde mais de 60% dos estudantes precisam acompanhar as aulas pelas minúsculas telas do celular.
Em casas menores, ambientes menos isolados de barulho, sem computadores e muitas vezes sem livros, como esperar que esses estudantes consigam a aprovação almejada? A nota do Enem é fundamental para que esses jovens consigam o sonhado acesso à universidade pública, ou a obtenção de bolsas de estudos. A propaganda do governo fala que se o exame não for realizado uma geração de profissionais pode se perder. Mas o fato é que a manutenção em situação tão adversa matará os sonhos de toda uma geração de jovens pobres, que apostam na educação como uma forma de mudar de vida.
Diante disso, decidi entrar com uma representação no TCU para que o Inep suspenda o exame até que se possa ter uma visão mais clara dos rumos das aulas no Brasil. A intenção não é cancelar o Enem, é adiar, atendendo ao clamor de todos os estudantes brasileiros, que sabem a dificuldade que estão enfrentando.
O Enem precisa ser adiado porque a educação é, sim, um poderoso instrumento de justiça social, de promoção de desenvolvimento econômico e social. O Enem precisa ser adiado para preservar o sonho de toda uma geração, que no futuro poderá fazer muito pelo Brasil.
*Senador Weverton Rocha, líder do PDT no Senado