Com governadores, Manoel Dias defende integração dos estados contra Bolsonaro


Por Bruno Ribeiro/FLB-AP
16/05/2020

O secretário-geral do PDT exaltou a firmeza dos gestores na manutenção do isolamento social

Defesa de políticas públicas de saúde baseadas na ciência e integração dos estados para contrapor democraticamente as medidas inadequadas do governo Bolsonaro. Com essas premissas, o secretário-geral do PDT, Manoel Dias, mediou o debate virtual sobre ‘Pandemia, Crise e Pacto Federativo’ com os governadores da Bahia, Espírito Santo, Maranhão e Pará, Rui Costa (PT), Renato Casagrande (PSB), Flávio Dino (PCdoB) e Hélder Barbalho (MDB), respectivamente. Integrante do ciclo ‘Diálogos, Vida e Democracia’, o encontro suprapartidário ocorreu neste sábado (16) e foi transmitido ao vivo pelo Youtube.

Organizada pelo Observatório da Democracia, fórum das fundações do PT, PSB, PCdoB, PDT, PSOL, PROS, PPL e Cidadania, a webconferência sinalizou a movimentação por um alinhamento cada vez mais expressivo dos estados na formulação de medidas equilibradas de proteção social e que, posteriormente, permitirão a reabertura segura do mercado. E, de forma unânime, mostrou a convergência de críticas diante da responsabilidade de Bolsonaro na ampliação da crise e no retardamento da retomada do progresso nacional.

Diante do impacto da recente demissão do ministro da saúde, Nelson Teich, Dias, que também e presidente da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (FLB-AP), indicou que a gestão federal atingiu a “completa desordem” justamente no período mais crítico da pandemia.

“Percebemos a ausência e irresponsabilidade do presidente, que se contrapõe ao que o mundo está fazendo para eliminar o coronavírus. Simultaneamente, ele estimula a separação dos estados. Com isso, gera forte pressão no pacto federativo, que deveria ser a soma dos entes coordenados pelo governo federal”, condenou.

“Não existem medidas consistentes para fortalecer o SUS, muito menos de proteção social. O governo não consegue distribuir R$ 600 para o povo, que, na maioria, nem sabia que existia, enquanto entrega, nos cofres dos bancos, mais de R$ 1 trilhão”, completou.

Para Rui Costa, Bolsonaro não se propõe a administrar com seriedade e tenta impor caminhos que geram empecilhos “no processo de estruturação dos estados para salvar vidas e colocar a máquina para funcionar”.

“Dois ministros da saúde em trinta dias. Médicos que são, não aceitaram o receituário de quem não entende de saúde. Eles preferiram ficar com a formação e a ciência do que com a bravata. É muito grave”, garantiu.

“Em que país do mundo o presidente está obrigando a defender um remédio e passar receita pela televisão? Além de não ajudar, a atuação dele tem atrapalhado as ações de governadores e prefeitos. A guerra interna só prolonga os problemas”, indicou.

Caminhos

Ao apoiar os posicionamentos apresentados, Flávio Dino ressaltou que não deve existir a monetização da vida, pois, para ele, não são negociadas. O ex-juiz federal ponderou a implementação de uma “saída civilizacional baseada no bom senso e na democracia para evitar o caos social, desejado pelo fascismo brasileiro”.

“O autoritarismo floresce no desespero. Existe uma atitude de sabotagem liderada pelo Bolsonaro. Isso faz que os esforços se percam. Ele é o que mais empurra a economia brasileira para fazer mais gastos, pois tenta impedir medidas sociais defendidas mundialmente”, alertou, ao referendar as políticas assistenciais: “O Congresso, corretamente, estendeu o auxílio de outras categorias, mas o presidente vetou. A meu ver, contrário aos interesses nacionais e de forma inconstitucional. Precisam ser derrubados”.

No detalhamento das especificidades encontradas no Pará, com ampla dimensão territorial e predomínio do transporte aquaviário, Helder Barbalho ratificou a importância de decisões transparentes pautadas na ciência.

“Nós temos que fazer a opção de preservar a vida da população. E o isolamento social permite que a velocidade do contágio seja retardada e não promova o colapso do sistema de saúde. Temos que ter a capacidade de unir o brasil em torno de um único adversário: o coronavírus.

No relato de que a nova mudança no comando do ministério da Saúde indica que o país está à deriva, Casa Grande confirma que não existe uma atuação conjunta entre União e estados por desejo do presidente.

“Bolsonaro procura o enfrentamento com os governadores, em especial. Um enfrentamento à vida. Nunca pensei que ele faria isso, independente das posições políticas”, ponderou. “As nossas ações ganharam peso, diante de uma pandemia que não é de curto prazo. São protocolos e medidas que devemos adotar até a chegada da vacina”, ratificou.

“Isso é novo no Brasil e se intensificou, a partir de 2015. É um fenômeno recente a favor da democracia e pode dar acenos, junto do Congresso Nacional, na tomada de decisões para reabilitar o emprego e a renda”, comentou Rui Costa, ao defender um marco civilizatório contra os retrocessos e o ódio:   “Na ampliação de horizontes, precisamos pavimentar a unidade diante da mesma visão de responsabilidade social e econômica para o Brasil. Hoje, na realidade atual, todos perdem”.

Progresso

Ao citar que o povo brasileiro está apoiando as políticas estaduais de preservação da vida, da assistência social e da mobilização de forças econômicas para a retomada da economia, Casa Grande foi enfático ao dizer que o brasileiro “precisa fugir dos reacionários e fascistas no ambiente democrático, que pregam a estupidez”.

“A pandemia não depende de governo, mas das pessoas. Cada um assumir suas responsabilidades para atingir o ganho coletivo. Não podemos terceirizar o resultado. Devemos dar, cada um de nós, a contribuição.

“A política dos governadores está sendo eficiente, mesmo diante das dificuldades e limitações. A União precisava ter uma coordenação nacional para cuidar de um pacote efetivo e permanente de assistência social, além de ações para uma política industrial que garanta a soberania nacional”, acrescentou.

Nesse sentido, Manoel Dias propôs a análise de uma renda familiar nacional, que auxiliaria, segundo o ex-ministro do Trabalho e Emprego, a amenizar os impactos, principalmente, durante o isolamento social. Tais medidas ratificariam o protagonismo dos governadores na condução “patriótica do país”, ao lado do congresso nacional e o STF.

“Não devemos esperar um governo federal que não quer ajudar. Devemos construir um projeto federativo integrado com governadores, prefeitos, empresários, Congresso Nacional e Judiciário para avançar nas ações democráticas de reconstrução do país. Com o potencial e reservas do Brasil, associado a um bom plano de recuperação, vamos sair de cabeça erguida de tudo isso.”

Na trajetória para o futuro, Flávio Dino destaca a necessidade de reconstrução da economia nacional a partir do setor industrial, que sofreu uma retração ao longo das últimas décadas. “Um exemplo são os insumos do complexo de saúde. A alta dependência do Brasil do mercado internacional. Fica uma lição importante: garantir o abastecimento direto do mercado brasileiro”, disse, ao concluir: “Devemos priorizar as políticas econômicas com crédito, investimentos, fundos e bancos públicos”.

Com essa perspectiva, Hélder Barbalho acrescenta que o governo federal deve ter a visão de atender os setores mais impactados. Além disso, o governador indica que “o papel de todas as lideranças e agrupamentos setoriais é de participar para a união do Brasil”.

“É um momento de convocação nacional. As diferenças não podem tirar nossas forças. Permanecer unidos e buscar o diálogo com quem seja capaz de dialogar. A sociedade precisa compreender o momento que nós vivemos e a experiencia vividas no mundo. O único adversário agora deve ser o coronavírus, pois temos irmãos que estão perdendo a vida”, encerrou.

Confirma abaixo como foi o debate na íntegra: