Quantos votos têm aqui?
Optei por organizar os dados fazendo um recorte tradicional da cidade do Rio de Janeiro. Basicamente, dividi a cidade entre Zona Sul, Zona Oeste, Zona Norte e Centro. É importante ressaltar que essa é uma escolha metodológica minha. É perfeitamente possível usar uma outra forma de segmentar.
Essa escolha possui um motivo que é mostrar uma tendência. Ela é mais um dos resultados das mudanças que a cidade do Rio passou da redemocratização para cá. A partir disso, recortei uma série (1998 até 2018), que é relativamente curta, mas suficiente, para entender como se concentra o voto no Rio e qual o impacto que as transformações da cidade têm nisso.
De início, percebe-se que a distribuição de eleitores hoje na cidade é a seguinte:
– Zona Sul: 9,5%
– Zona Norte: 46,6%
– Centro: 4,8%
– Zona Oeste: 39,1%
Mesmo considerando abstenções, brancos e nulos, essa proporção permanece parecida. Dessa forma, começamos a visualizar o peso da Zona Norte e da Zona Oeste. Elas duas concentram 85,7% dos votos da cidade. Sem elas, torna-se tarefa difícil eleger vereadores e, impossível eleger prefeito. Por isso, para nos tirar do escuro, escreverei outro texto sobre o voto da esquerda na cidade utilizando os mesmos dados. Assim, teremos uma visão melhor da nossa presença na cidade, principalmente quando segmentarmos entre os partidos.
Analisando os dados em série, é perceptível a tendência de crescimento da Zona Oeste. Até 2014, houve um expressivo crescimento nos quatro cantos da gigantesca Zona Oeste. Após esse ano, o processo se desacelerou de forma abrupta, meu palpite é o impacto da crise econômica pós-2014 na cidade, que conteve o avanço da construção civil. Mesmo assim, alguns bairros apresentam crescimento significativo, como por exemplo a região Recreio/Vargem Grande/Vargem Pequena e a região Anil/Gardênia/Cidade de Deus/Pechincha/Rio das Pedras.
O importante nesse momento é termos em mente que essa zona está apresentando um crescimento contínuo, fazendo necessário os partidos e as organizações políticas olharem com mais atenção para ela.
Enquanto isso, Centro, Zona Sul e Zona Norte não só perderam espaço em termos proporcionais, como apresentaram queda nos números absolutos. Todas as zonas eleitorais dessas regiões apresentaram saldo negativo no número de eleitores, com algumas exceções. Sabe o que essas exceções possuem em comum? As zonas eleitorais que mostram crescimento são aquelas que cobrem favelas, principalmente os grandes complexos. Aqui incluímos o Complexo da Maré, o Complexo do Alemão, Rocinha, Vidigal, Acari e etc.
Em números absolutos de eleitores, o eixo Centro-Zona Sul foi a principal queda entre 2020 e 1998. Isso nos leva a crer que, cada vez mais, essas duas regiões vão perder espaço, principalmente nas localidades mais elitizadas. A Zona Norte perdeu bastante peso proporcional, mas não foi algo significativo em termos absolutos, ou seja, a principal causa da diminuição do tamanho proporcional foi o crescimento da Zona Oeste.
Essa movimentação na disposição da cidade, com o Rio Olímpico, expandindo para a Zona Oeste, mexeu nas estruturas da dinâmica política. A tendência é que essa região ocupe um espaço cada vez maior não só em termos de votos, mas na disputa política da cidade. Existindo um agravante importantíssimo: a milícia. Contudo, vamos debater sobre esse e outros assuntos no próximo texto que tratará do caso específico da Zona Oeste.
Confira os dados do levantamento nas tabelas abaixo:
*Vitor Straub é dirigente da Juventude Socialista, estudante de Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).