A história ensina que em momentos graves e de ameaças ao estado democrático de direito, por forças reacionárias e atrasadas, a união do campo progressista é urgente. Nunca é demais lembrar que divergências que impediram a unidade dos setores democráticos acabaram contribuindo para a chegada ao poder do fascismo italiano, por exemplo.
Vivemos um período em que retrocesso de proporções desastrosas está sendo levado adiante pelo governo de Jair Bolsonaro. A crise econômica se aprofunda, o desemprego assombra os brasileiros, o ensino público é atacado, a autonomia universitária é solapada, o incentivo à ciência é suspenso, a Amazônia arde.
Como se não bastasse, o país mergulha num poço de descrédito internacional, de proporções incalculáveis, direitos sociais são retirados, o obscurantismo cresce, o Estado laico é desacreditado e o presidente dá demonstrações públicas de desprezo pelos direitos humanos.
A história recente fornece exemplos de construção de frentes políticas de caráter democrático-popular, que se consubstanciaram num programa comum, tal como vem ocorrendo em Portugal, com a exitosa aliança político-eleitoral denominada Geringonça, que vem fazendo um governo progressista e transformador naquela nação irmã.
Pactos dessa natureza exigem desprendimento, capacidade de negociação, reconhecimento de diferenças e construção de pautas comuns que garantam a unidade. Vaidades, projetos pessoais, picuinhas e rusgas passadas não podem inviabilizar acordos que a gravidade do momento exige.
Reconhecer também novos atores sociais nesse processo é tarefa fundamental. A reconstrução do tecido institucional não poderá ser feita com o campo democrático fragmentado. Passa pelo reconhecimento da projeção de Ciro Gomes como liderança nacional e capaz de unificar o campo progressista; pelo simbolismo do trabalho de Marina Silva; pela vanguarda das ideias e ações de Flávio Dino, à frente do governo do Maranhão; pela libertação de Lula; pela capacidade de ouvir novas lideranças do Congresso Nacional, a exemplo de Marcelo Freixo; pela incorporação neste debate das demandas e do protagonismo das mulheres, indígenas, quilombolas, estudantes, trabalhadores; assim como pelos políticos de ideário liberal, mas que tenham compromisso com a democracia.
Terá de envolver ainda o PSB do governador Paulo Câmara e do seu saudoso presidente, Eduardo Campos. Se vivo estivesse, pelo que representou para o seu tempo, Ulysses Guimarães, do velho MDB, seria peça-chave neste momento crítico da nossa história.
A busca do consenso, que muitas vezes significa abrir mão de alguns objetivos pessoais em nome de pautas coletivas, exige grandeza. A história nos cobrará. Que saibamos honrar as lutas do passado com a união que, no presente, poderá afastar os fantasmas que assombram a nossa democracia e garantir um futuro promissor e solidário ao nosso país.
Chico D’Angelo é deputado federal (PDT-RJ)