O ato político de maior bravura de Leonel de Moura Brizola ganhará as telonas do país no próximo dia 12. A Campanha da Legalidade é tema central do homônimo longa dirigido por Zeca Brito e estrelado por Leonardo Machado (in memorian), Cleo Pires, Fernando Alves Pinto e José Henrique Ligabue, entre outros. O drama político é capaz de encantar o público desconhecedor do tema, assim como pode deixar os brizolistas agitados pela ausência de visceralidade. Sobretudo, cumpre a função informativa negligenciada por muitos historiadores brasileiros.
A trama gira em torno das duas semanas em que Brizola liderou um levante popular em Porto Alegre, entre 25 de agosto e 7 de setembro de 1961, para garantir a posse de João Goulart, vice-presidente, após a renúncia de Jânio Quadros. À altura, Jango estava em visita oficial à China, e o pano de fundo da época já mostrava um levante das forças conservadoras, principalmente no Congresso, com claras interferências norte-americanas. Jango, um milionário estancieiro, católico, era acusado de comunista, e a renúncia de Jânio atiçou o golpismo de Lacerda, Adhemar de Barros e tantos outros.
Cunhado de Jango e Governador do Rio Grande do Sul, foi dos porões do Palácio Piratini, em Porto Alegre, que Brizola liderou o movimento legalista para garantir a posse do vice-presidente. Criou através das ondas do rádio um movimento que pouco a pouco foi tomando o resto do Brasil. A coragem do governador gaúcho é evidente na interpretação compenetrada de Leonardo. O ator dá vida à intransigência do trabalhista em defesa da legalidade e da vontade popular, recorrendo da sua típica oratória apaixonada, ao sorriso curto, terno e preocupado – característicos de Brizola.
Os pontos altos do movimento estão lá: o entrincheiramento da sede do Governo; a distribuição de armas ao povo que se aglomerava à porta do palácio; a adesão do Terceiro Exército ao movimento legalista, culminando no episódio em que alguns militares rebelados da base aérea de Canoas furaram os pneus dos bombardeiros que já, àquela altura, tinham ordem para decolar e atacar o Palácio. Importante reconhecer a narrativa brilhante de Zeca ao misturar ficção a temas factuais – como a participação de uma espiã (Cléo Pires) da CIA em todo o processo de crise, ilustrando detalhes obscuros que estiveram presentes na garantia da posse de Jango.
Ainda que um pouco açucarado pela estratégia narrativa do diretor, o filme faz questão de ratificar a qualidade antiimperialista de Brizola. Em volta do governador gaúcho aparecem lideranças revolucionárias como o argentino Ernesto Guevara de la Sierna (Che) e outros conselheiros comunistas, mas nada que retire o caráter democrático de Leonel.
Legalidade indiscutivelmente é um filme bem produzido, com estética agradável e boas atuações. A fotografia é bela e sóbria, unindo imagens reais com a ficção. Como entretenimento, garante um belo drama a ser apreciado. Do ponto de vista do conhecimento histórico nacional, é a maior produção audiovisual a contemplar a Campanha da Legalidade e a reconhecer a importância que Leonel de Moura Brizola teve para o país.
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