Casa cheia, público qualificado e debate consistente e necessário. Este foi o resumo do terceira edição do “Quartas Trabalhistas”, evento promovido pela Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (FLP-AP), que trouxe o deputado federal pernambucano Túlio Gadêlha (PDT) para debater o desmonte do ensino superior no Brasil. O local do debate não poderia ser outro: o Salão Nobre do Prédio Histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que abriga a Faculdade de Direito, a primeira do Brasil.
Túlio Gadêlha foi eleito deputado federal em 2018 e desponta como uma das revelações da política nacional. O parlamentar, que tem longa história no PDT, se propôs a viajar pelo Brasil para debater a Educação. “Estamos vivendo uma tentativa de acabar com a educação pública no Brasil. Precisamos desmistificar a ideia de que a educação pública superior serve a uma elite. Prova disso é que 65% dos pais dos atuais estudantes universitários só tem ensino médio”, ponderou.
Sem poupar críticas ao atual governo, Túlio afirma que “ao que parece, existe uma tentativa de mercantilização da educação e isso é muito perigoso. O governo Bolsonaro é contra o estudo científico, é contra qualquer tipo de pensamento crítico. Quando se fala em escola sem partido, ele não está querendo tirar o partido da escola, quer tirar o pensamento crítico da escola. Então, o debate da educação instiga os jovens e toda a população porque afeta diretamente a vida de todas as pessoas”, ressaltou.
Aos jovens estudantes, o parlamentar deixou um recado. “A gente não pode se entregar. A gente não pode esperar que as pessoas resolvam os problemas por nós. Não podemos depositar as esperanças em políticos ou pessoas. Temos que depositar nossas esperanças em causas. Porque a pessoas cometem falhas. Por isso acho que a gente tem que assumir essa responsabilidade de colocar a cara, de conhecer o sistema de perto para poder criticar. Não é se afastando da política que a gente vai resolver, é se envolvendo”.
O presidente da Fundação, Haroldo Ferreira, destacou o papel do instituição da discussão dos temas que afetam diariamente a sociedade. “A Fundação tem o papel de debater e de trabalhar questões políticas, públicas e sociais, não deve se prender somente a questão estrutural do partido. Ela tem que estar a aberta a vários temas e de forma democrática e popular, como é o nosso propósito”.
Responsável pela vinda de Túlio ao Paraná, o deputado estadual Goura (PDT) informou que foi composta na Assembleia Legislativa uma Frente Parlamentar em defesa das universidades públicas estaduais e federais. “No âmbito estadual são sete universidades estaduais e temos sérias dúvidas e preocupações que vão desde a precarização dos serviços, a desvalorização dos docentes e o atendimento aos alunos. Então, é importante que a mobilização dos estudantes e de toda a população se coloque de forma clara e inequívoca como uma pressão política. A UFPR, a UTFPR e a UNILA estão sofrendo ataque direto do governo federal e precisamos resistir”, ressaltou Goura.
Colega de bancada de Túlio Gadêlha, o deputado federal Gustavo Fruet (PDT) falou do significado a UFPR, a primeira universidade federal do país, e da importância do debate democrático. “É uma demonstração de que este é um espaço público, múltiplo, de incentivo ao debate, incentivo a divergência e que proporciona a possibilidade de enfrentamento de ideias e também da busca de convergência. Temos uma desafio imenso de recuperar a identidade partidária no país. Há um profundo desgaste e distanciamento da política, e há motivo para isso. Nosso partido e apesar de nossas contradições, tem uma papel importantíssimo na vida democrática nacional”, assegurou Fruet.
Antes do evento Quartas Trabalhistas, Túlio Gadelha cumpriu uma extensa agenda em Curitiba. Acompanhado do deputado Goura, o pernambucano teve a oportunidade de conhecer um pouco da estrutura de mobilidade urbana de Curitiba. À tarde, o deputado participou de uma live com o Movimento Biarticulando e em seguida, de um bate-papo com pedetistas na sede estadual do partido.
A terceira edição do Quartas Trabalhistas foi transmitida ao vivo pelo Facebook. Você pode revê-la acessando aqui.
Abaixo destacamos alguns posicionamentos de Túlio Gadêlha sobre outros temas que estão em debate no cenário nacional.
Censura
“O governo Bolsonaro já vem flertando com a censura há muito tempo. Se você observar o seu mandato como deputado federal, há 28 anos, ele sempre foi uma figura muito polêmica. E ele tem percebido que esse discurso de questionar números oficiais, de contrariar a verdade, tem ecoado. Ele se elegeu muito com base nisso. Esse flerte é muito perigoso, temos que ficar atento aos próximos passos”.
Nordeste
“Caso claro de xenofobia. Ele representa uma minoria de uma minoria da população que eu repudio. O estado da Paraíba é um estado que muito nos orgulha. Infelizmente o presidente do nosso país é de uma ignorância e de uma estupidez imensa. Mas a gente não deve se apegar a esses debates porque isso é cortina de fumaça. Enquanto ele fala essas barbaridades e toda a imprensa se volta a isso, ele está destruindo a Previdência Social, destruindo a nossa aposentadoria, entregando o nosso patrimônio. Acho que a gente deve se manifestar e acabar com o assunto, não deve deixar render porque a gente acaba perdendo o foco”.
Previdência
“A reforma da previdência retira dos mais pobres. Nós somos a nona economia do mundo e o oitavo país mais desigual. Existe uma parcela da população que defende a reforma, mas quando você vai conversar sobre o quanto aquilo afeta na vida das pessoas, elas ficam indignadas. O Brasil precisa sim de uma reforma da Previdência, mas não dá para tirar de quem tem menos”.
Lava Jato
“Cumpriu um papel importante e continua cumprindo. Mas no meio dessas condenações a gente percebe que teve processos viciados. O que as revelações do The Intercept tem mostrado é que o então juiz Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça, coordenou as ações, atuou como parte, teve todo um processo de coordenação junto ao Ministério Público. Só a defesa de Moro como ‘o homem da Lava Jato’ já mostra que o processo está contaminado, porque ele era o juiz, ele não pode receber os méritos da operação, quem deveria receber é o Ministério Público. São revelações muito graves e, se realmente aconteceu o interesse político no julgamento de qualquer preso ali, nós temos presos políticos no Brasil”.