“O presidente João Goulart foi um grande brasileiro que marcou a nossa história”


Osvaldo Maneschy e Apio Gomes
14/05/2019

Eduardo Loureiro, deputado estadual do PDT pelo Rio Grande do Sul e ex-prefeito de Santo Ângelo (RS), como muitos gaúchos da atualidade, não conheceu pessoalmente o presidente João Goulart, mas sim através de depoimentos de familiares. O seu avô, Romeu Goulart Loureiro, nascido e criado em São Borja, era primo e contemporâneo de Jango; e seu pai, Adroaldo Loureiro, acompanhou toda a trajetória e vida política do presidente.

“Cresci ouvindo meu pai e meu avô falarem sobre Jango; sempre gostei de política e hoje milito no PDT”, disse, frisando que aprendeu em casa que a Legalidade, em 61, foi marco na História do Brasil como “momento cívico extraordinário de defesa da Constituição” sob a liderança de Leonel Brizola. “Foram 13 dias de mobilização cívica no Rio Grande do Sul e no Brasil para garantir a posse do Vice-Presidente eleito”.

Com base no que ouviu e no que leu, aprendeu que as reformas de base propostas pelo presidente João Goulart, se implementadas na época, transformariam o Brasil em um país muito melhor do que é hoje: “As reformas são absolutamente atuais porque continuamos precisando de reforma tributária, de reforma educacional, de reforma habitacional, etc. etc.”, argumentou. Todas elas cruciais para o desenvolvimento.

Segundo Loureiro, Jango era um nacionalista e por isto sancionou, entre outras, a lei da remessa de lucros para o exterior para frear a atuação das multinacionais no Brasil; desapropriou terras para a reforma agrária; valorizou as empresas nacionais e também as estatais como a Petrobras, a Vale do Rio Doce e criou a Embratel. O governo de Jango, ainda de acordo com Eduardo Loureiro, desenvolveu ações voltadas para a população mais necessitada: daí a criação do 13° salário e o seu apoio a medidas como o tabelamento dos aluguéis e dos medicamentos.

Por conta destas iniciativas, continuou Loureiro, Jango contrariou muitos interesses e isto ajudou a desencadear o golpe da direita civil-militar, desfechado em plena guerra fria – época do enfrentamento entre os blocos ocidental, liderado pelos Estados Unidos; e o comunista, liderado pela União Soviética.

No Brasil desta época já predominava “o discurso falso que ganhou corpo”, da direita, de que o presidente Goulart era comunista e sonhava instaurar um regime comunista no Brasil. Veio o golpe de 1964. Que foi vitorioso, na opinião de Loureiro, até pelo fato de Brizola não ser mais governador dos gaúchos e não existirem em 64 “as mesmas condições de resistência de 1961”.

Na opinião de Loureiro, Jango foi deposto pelas mesmas forças que obrigaram Getúlio Vargas a se matar na crise de agosto de 1954 porque ambos defendiam a soberania do Brasil e se posicionavam contra a exploração das riquezas naturais do Brasil por estrangeiros, prejudicando os brasileiros.

“Ambos valorizavam o capital nacional, os trabalhadores e os empreendedores brasileiros”, bases para o desenvolvimento soberano – tanto que importantes estatais foram criadas por Vargas e Jango, destacou Loureiro.

Sobre a figura humana de João Goulart – com base no que dizia seu avô, com quem aprendeu muito – Loureiro disse que ele era um homem rico, um grande criador, que se quisesse poderia levar uma vida absolutamente tranquila e cômoda com sua família – como tantos pessoas ricas, de sua época. Mas pelo contrário, ele dedicou a vida à causa pública.

Ao concluir, Loureiro afirmou: “O presidente João Goulart, pessoa sensível do ponto de vista social, foi sem dúvida um grande brasileiro que marcou a nossa História. Como disse Darcy Ribeiro, ele foi vítima de seus acertos; não de seus erros”.

Confira a entrevista completa abaixo: