Realizado dentro da programação do Fórum Social Mundial, em Salvador (BA), o debate sobre o manifesto “Unidade para Reconstruir o Brasil”, lançado em fevereiro deste ano pelas fundações ligadas aos partidos de esquerda (PDT, PT, PSOL e PC do B), reforçou a necessidade de ampliação da representatividade feminina em nível nacional, principalmente na política. A pauta foi levantada por Miguelina Vecchio, vice-presidente nacional do PDT e estadual da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini (FLB-AP) no Rio Grande do Sul.
Ao lado dos presidentes dos presidentes das fundações Maurício Grabois, Perseu Abramo e Lauro Campos, Renato Rabelo, Marcio Pochmman e Franscisvaldo Mendes, respectivamente, Miguelina Vecchio, que também é presidente nacional da Ação da Mulher Trabalhista (AMT), iniciou sua participação prestando solidariedade à família e amigos da vereadora Marielle Franco, brutalmente assassinada na noite de ontem, no Rio de Janeiro.
Representando o presidente da FLB-AP, Manoel Dias, a pedetista cobrou a necessidade de um maior espaço para as mulheres no documento produzido pelas entidades vinculadas a partidos de esquerda.
“Quando li este manifesto, fiquei tranquila em saber que ele representa apenas um início, pois está bem aquém daquilo que nós mulheres merecemos, até porque os nossos problemas são os problemas do povo brasileiro, pois somos a metade da população”.
A redução das desigualdades sociais, a geração de empregos e a distribuição de renda, questões abordadas pelo manifesto como parte das novas diretrizes para um novo projeto nacional de desenvolvimento, também foram trazidas à tona pela pedetista sob a ótica da necessidade da institucionalização de conquistas do povo.
“Nós tínhamos interesse que o povo brasileiro saísse da miséria absoluta, e saiu. Naquele período saiu, mas nós, efetivamente, propugnamos pela emancipação do povo? Será que programas que tem o objetivo de emancipar o povo podem ser eternos ou devem ter começo, meio e fim? Ou será que essa emancipação só nos serve para discurso?, indagou.
“Temos que avaliar que tipo de política pública é essa que foi feita, que quando se muda o governo, simplesmente se acaba com todos os programas”, completou Vecchio.
A liderança feminina apontou ainda a necessidade de se repensar alguns aspectos da política econômica. “Nunca neste país banqueiro ganhou tanto dinheiro. Pontos devem ser revistos, pois este tipo de política influencia todas as outras, a exemplo da educação”, afirmou.
Para uma ampla plateia, ela lembrou que Leonel Brizola batalhou, ao longo de sua vida, pela educação em tempo integral a partir dos Cieps, que supre as necessidades da criança no processo de crescimento.
“Hoje, a grande maioria dos estudiosos dizem que a única maneira de erradicar o trabalho infantil, de fato, é com a escola em tempo integral. Até a direita já defende esta questão ao ver que não tem espaço para não defender”, disse, ao completar: “Se nós tivéssemos construído isso lá no tempo do nosso velho Brizola, talvez o povo estivesse um pouco mais esclarecido, e já estaríamos promovendo a verdadeira emancipação do povo, que passa necessariamente pela educação”.
Após criticar algumas alianças políticas que, segundo a vice-presidente, acabam por colocar em risco as ideologias da esquerda em prol da governabilidade, destacou o exercício da autocrítica como um passo importante para avançarmos em algumas questões.
“Não conseguimos ainda fazer com que o povo brasileiro compreenda que o setor elétrico de nosso país, passando para falar das grandes concessões de rádio e televisão, e chegando ao pré-sal, são de sua propriedade”, alertou.
Para a pedetista, a esquerda não tem consigo, pelo discurso, construir essa compreensão, que é fundamental para que os brasileiros consigam separar e identificar as diferenças entre o campo popular e as candidaturas de extrema-direita”.
Ao final, Miguelina fez referência a difícil missão de substituir Manoel Dias, que por questões de saúde não pôde comparecer ao evento, e falou sobre a importância da interação com a sociedade enquanto elemento transformador da vida das pessoas.
“O sujeito da mudança é um sujeito difícil de ser construído, mas acredito muito no trabalho realizado pelos coletivos, não só o de mulheres, mas tantos outros que estão organizados e que tem prestado um grande serviço a nossa sociedade. Vamos dar nossa contribuição para o manifesto sob a ótica de gênero”, concluiu.