O artigo de Robert Muggah, publicado na Folha de S. Paulo, em 16/11, intitulado “Declínio devido à globalização não representa o fim dos Estados-nação”, produz uma certa escuridão à frente da sociologia e da filosofia, que precisam responder ou sucumbir ao fato de que vamos sentir saudade do passado ou aceitar que o futuro esteja condenado a repetir o passado para melhor ou não.
A leitura desse artigo produz uma sensação esquisita e, ao mesmo tempo, uma constatação cognitiva pavorosa.
Sobretudo se pensado a partir de uma perspectiva do que será o futuro, se nada for feito hoje, aqui e agora.
No que se refere ao Brasil, considerando a pobreza das discussões dos concretos candidatos presidenciais, o Estado e a sociedade brasileira estarão dentro de um colapso anunciado.
Não se discute a essencialidade da realidade. Discute-se apenas cosméticos culturais, costumes, tradições e gêneros que asfixia e cega o que vem por aí, a partir do que está formulado pelos “mitos” e ” tragédias” que se anunciam.
Nos anos 90, li muito David Held e Anthony Giddens, mas também Habermas e suas críticas à Escola de Frankfurt, sobre a modernidade e a globalização. Eram os anos de Bill Clinton, Tony Blair e Fhc. O mundo estava otimista. Conflitos e guerras diminuíram sua intensidade.
A perspectiva era outra de estabilização com a construção de blocos econômicos entre países como o inusitado mercado comum europeu e outros blocos como o Mercosul. Esse modelo, por egoísmo dos grupos econômicos poderosos, gente milionária, industriais e banqueiros et caterva elevaram a desigualdade e as injustiças a níveis insurrecionais.
Aumentaram a tragédia e o fracasso da globalização, atraindo a barbárie do segregacionismo de toda ordem.
Criaram um ambiente favorável para o crime organizado e a falência dos Estados nação.
Assim tem sido a pólvora da barbárie.
Diante desse quadro atual volta a questão do estado nacional. Aquele estado que alavancou o Brasil de uma realidade agrária para uma sociedade industrial. Estado-nação que surge nos anos 1930, 1932, 1937, 1945, 1954, 1961, 1964 que perdurou até os anos 80, vindo do esforço nacionalista de Getúlio Vargas. Um período em que se lutava com as armas do sentimento pátrio e da soberania do estado nacional.
O fato é: ou muda esse modelo de globalização em que no Brasil apenas 6 pessoas detém a renda do 100 milhões de brasileiros ou a marcha da insensatez caminha para a falência estrutural, moral e institucional.
A julgar pelos olhos de Hegel vivemos a fase da antítese da história. A tese esgotou-se. A síntese a ser vislumbrada não sabemos, ainda. O momento é de intervalo.
Por Isso, muita coisa vai acontecer no próximos passos rumo ao futuro. E não será fácil. O contrato social precavido por Rousseau precisa ser recuperado para o bem de todos. Ou então se pagará com a espada do Leviatã previsto por Hobbes que se erguerá como uma solução para estancar a sangria da violência insuportável para as famílias brasileiras.
O medo é o primeiro passo dessa história. E todos nós estamos com medo.
Talvez surgirá algum príncipe que encarnará os hábeis caminhos da astúcia necessária de Maquiavel para liderar o estado-nação que unificará o povo hoje fracionado? Pois também é uma questão de sobrevivência da nação.
Enfim, não existe uma panacéia nem salvador da pátria. Existe o diálogo, de um lado, e a força legal de outro. A cultura ou a natureza. A cultura racional ou a natureza do desejo animal. Burgueses, aristocratas, trabalhadores e a classe média dependem de um pacto social para sobreviver.
O resto é esperar para ver o que sobra desse desencanto com a racionalidade técnica anunciado por Weber e Heidegger que mais ilude do que resolve os desafios que devem ser mostrados, debatidos e resolvidos.
Além dessa equação é fazer da história uma repetição secular da tragédia humana.
E la nave vá!