Segunda-feira, 23 de janeiro, 10h, sede da ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), em São Paulo. Dezenas de representantes de entidades patronais e de trabalhadores estão reunidos não para comemorar algum feito da engenharia brasileira, mas sim para denunciar, com tristeza, que o governo optou por uma política antinacional que paralisa nosso desenvolvimento e escancara nosso mercado para as multinacionais. Plataformas, e até siderúrgicas, chegam inteiras, prontas para serem instaladas, sem gerar empregos no Brasil. Empresas brasileiras são afastadas de processos licitatórios. “Se essa determinação persistir não será o começo, mas o meio do fim, ou seja, um passo adiante na liquidação das grandes empresas brasileiras e da própria engenharia nacional”, afirmou com pesar Murilo Pinheiro, presidente da Federação Nacional dos Engenheiros.
Estou ali como deputado federal, Presidente da Frente Parlamentar Mista de Engenharia, Infraestrutura e Desenvolvimento Nacional, mas como engenheiro de formação fico indignado como um setor que já deu exemplos para o mundo de capacidade técnica e inovação – caso da Ponte Rio-Niterói, da qual participei da construção – vem sendo desdenhado e relegado ao imobilismo, com trágicas consequências econômicas, como desemprego (para cada engenheiro em atividade há, no mínimo, 20 outros trabalhadores em sua volta), falências de empresas e retrocesso tecnológico. É imperativo nos mobilizarmos para impedir essa política entreguista, que nos faz lembrar do Brasil Colônia, ou do século passado quando erámos apenas exportador de commodities. Assumi ali, um compromisso de ir até a vitória, e além dela, nessa luta.
Causa espécie, uma certa indiferença da nossa imprensa para assuntos tão graves como, por exemplo, o funcionamento das ZPEs (Zonas de Processamento de Exportação), áreas de livre comércio com o exterior, destinadas à instalação de empresas voltadas para a produção de bens a serem comercializados fora. Segundo Cesar Prata, vice-presidente da ABIMAQ, no Ceará, no porto de Pecém, uma empresa coreana instalou ali uma siderúrgica, que já chegou totalmente pronta. Há empresas em atividade na vastidão da Amazônia agindo sem levar em conta nenhum aspecto nacional. E pouco disso vem à tona.
No dia seguinte, recebi correspondência de Murilo Pinheiro com agradecimentos e elogios a minha participação nesse processo. “Temos certeza de demos mais um grande passo na luta em defesa da retomada do desenvolvimento e da Engenharia Nacional. A parceria e presença marcante de V.Exa tem sido fundamental no movimento Engenharia Unida”. É lisonjeiro, mas não poderia agir de outra forma diante de tantas pessoas que confiaram e confiam no nosso trabalho. São essas pessoas que fazem o Brasil.
*Ronaldo Lessa é engenheiro e deputado federal pelo PDT de Alagoas e é presidente da Frente Parlamentar Mista de Engenharia, Infraestrutura e Desenvolvimento Nacional.