O ano ainda não terminou, mas se configura como um dos mais impactantes da história moderna.
A saída do Reino Unido da União Europeia e a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos demonstram que a humanidade decidiu volver à direita e substituir valores embasados no bem comum pelo egocentrismo. Fechamos o ciclo da luta pelo “nosso” e retornamos ao “cada um por si”.
Analistas políticos estão atônitos, não arriscam uma previsão sobre o que virá, mas são unânimes em afirmar que o mundo não será mais o mesmo.
Há algumas décadas era simples saber contra o que e pelo que lutar. Pinochet, Somoza, Franco foram ditadores, tomaram o poder pela força das armas; Trump foi eleito pelo povo, apesar do racismo, da xenofobia e do sexismo.
Isso confunde e nos remete a um terreno imprevisível, onde o certo pode não ter amparo legal. Passamos por algo semelhante no Brasil. Apesar de eleita pelo voto popular, Dilma Roussef sofreu tal pressão, que resultou num processo de impeachment – isso não deve ocorrer com Trump.
A direita emergente brasileira não tolerou que os programas sociais em curso, considerados populistas, se perpetuassem. Daí, estarmos às voltas com a PEC 241, a proposta do retrocesso.
Apesar de bem avaliado, Barak Obama não conseguiu eleger o sucessor. Foi duramente criticado pelo Obamacare, uma reformulação do sistema de saúde que impedia que planos discriminassem pacientes.
Aproximou-se de Cuba e não foi tão belicista quanto muitos queriam com relação à política internacional. Deixaria esse legado para Hillary Clinton, mas os americanos não concordaram, preferiram o combate aos imigrantes e a possibilidade de ataques nucleares a terroristas.
Mas quando começou essa guinada à direita que se observa no mundo? É difícil precisar, mas é fato que o avanço tecnológico, que deveria aproximar as pessoas, tem servido para propagar o egoísmo e o isolacionismo, um paradoxo que merece ser estudado.
As chamadas redes sociais da mesma maneira que disseminam boas ideias, também propagam o ódio e a intolerância. Quem defende a democracia não costuma ser virulento, já o contrário… Foi o que aconteceu nos EUA.
Os intolerantes encontram em Donald Trump um porta voz, esperamos que ele não se torne um algoz da democracia.
O ano ainda não terminou, mas os poucos dias que faltam para 2017 devem nos levar a uma reflexão sobre que futuro estamos construindo para nossos filhos e netos. Talvez o Natal nos traga um pouco de paz, concórdia e comunhão. Estamos precisando.
No que concerne a mim, que exerço a atividade política desde o final dos anos 60, o quadro entristece, mas não me esmorece.
Pelo contrário, ganho um novo ânimo para continuar lutando pelo que é justo e certo, lutando pela democracia.
*Ronaldo Augusto Lessa Santos é ex-prefeito de Maceió, ex-governador de Alagoas, por dois mandatos, e, atualmente, é deputado federal pelo PDT.
**Artigo semanal, publicado pelo jornal Gazeta de Alagoas.