A presidente Dilma Rousseff, que esteve em Nova Iorque para a assinatura do Acordo do Clima, retornou hoje (23/4) a Brasília por volta do meio dia – mas antes de embarcar, ainda nos Estados Unidos, concedeu entrevistas – após sua participação na reunião na ONU – a jornalistas estrangeiros e brasileiros.
Depois de atender a imprensa internacional, a presidente Dilma Rousseff falou pouco mais de 20 minutos a com jornalistas brasileiros no jardim da casa do representante permanente do Brasil na ONU, Antonio Patriota, em Nova York. A presidente se disse vítima de um processo “absolutamente infundado” e que não há contra ela nenhuma acusação de corrupção, ao contráriode outros políticos em Brasília.
— Sou vítima de uma ação ilegal, golpista e conspiradora — disse.
A presidente se referia ao processo de impeachment pelo qual está sendo julgada.
Na opinião dela, o processo fere as instituições brasileiras.
— Eu não posso dissolver o parlamento, assim como o parlamento não pode me julgar, com base no que a Constituição prega. A Constituição determina que, para que o impeachment aconteça, é preciso ter crime de responsabilidade. E não tem, contra mim, nenhuma acusação de corrupção.
Dilma falou mais de uma vez sobre a importância da garantia dos direitos, dela e dos brasileiros.
— A garantia do meu direito é a garantia de que a lei vai se sobrepor a qualquer interesse, pessoal ou político. Se a lei não vale para mim, não vale para ninguém, afirmou.
Questionada sobre o tão comentado discurso da ONU pela manhã, se mostrou incomodada.
— Não tenho culpa se a imprensa fala que vou à ONU falar mal do Brasil. Eu vim para falar a verdade. E a verdade é que tivemos uma participação decisiva na COP 21 para a assinatura do pacto — disse.
Ela garantiu ainda que muitos líderes prestaram solidariedade, mas não citou nomes. Na entrevista que concedeu aos jornalistas estrangeiros, Dilma falou sobre o pedido que pretende fazer para o Mercosul e a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), para que o processo de impeachment seja avaliado, a partir da Cláusula Democrática. Na coletiva com os brasileiros, ela repetiu o discurso.
Dilma surpreendeu os jornalistas ao dizer que não é contra a convocação de novas eleições e enfatizou que vai brigar pelo direito de cumprir seu mandato.
— Muita gente diz que não está acontecendo um golpe no Brasil porque não há arma. Mas a arma que estão usando é a mão. Basta uma mão para rasgar a Constituição.
Citando superficialmente as entrevistas dadas por Michel Temer e publicadas nesta sexta em jornais como The New York Times e Wall Street Journal, ela encerrou a coletiva com um trocadilho:
— Vocês sabem por que eles temem? Temem porque devem!
Já com os microfones desligados, foi questionada sobre sua família. Primeiro ela hesitou em responder, mas, depois, visivelmente emocionada, disse que sabe que a família está sofrendo muito com todo o processo.
— Não posso falar porque dói, dói muito.
Fora do jardim e já praticamente dentro da casa de Patriota, Dilma foi questionada sobre as críticas de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a possibilidade de Dilma usar a viagem a Nova York para se defender do processo de impeachment.
— Não é a posição do Supremo. É a opinião de apenas três ministros.
Pela manhã, durante o discurso na ONU, a presidente fez uma discreta menção à crise brasileira. Após falar sobre a questão climática, a presidente agradeceu aos líderes que manifestaram apoio a ela, mas não usou palavras como “golpe” ou “impeachment”.
Disse apenas que o “povo tem um grande apreço à liberdade e saberá impedir qualquer retrocesso”.