Lupi no Conversa Afiada: ‘Se tirarem Dilma, tem que ter eleições gerais’


OM - Paulo Henrique Amorim

 

Nesta sexta-feira (22/4), o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, defendeu, caso o processo de impeachment da Presidenta Dilma siga no Senado, novas eleições gerais. Em entrevista a Paulo Henrique Amorim, Lupi afirmou não acreditar que só um novo presidente seja suficiente para o país sair da crise.

“Não adianta querer eleger um presidente com esse Congresso que está aí. Ou se faz uma eleição casada [para presidente, deputado, senador, prefeito e vereador] ou não vamos ter a crise resolvida”, disse Lupi, para quem a saída de Dilma é Golpe.

“Eu vejo um Golpe branco acontecer no Brasil, em que assistimos algo repugnante”, declarou.

PHA: Qual a sua avaliação do momento político que o Brasil vive hoje, nesta sexta-feira (22)?

—  Uma avaliação triste. O país passa por um dos momentos mais difíceis de sua história. Eu vejo um Golpe branco acontecer no Brasil, em que assistimos algo repugnante: uma mulher inocente ser condenada de uma maneira vil, pequena. Um verdadeiro Golpe, que não precisa mais de armas e Exército. Agora, é só ter mídia e mobilização de uma direita conservadora para derrubar uma Presidenta eleita sem uma única comprovação de crime contra ela.

Qual a saída para o problema?

—  Primeiro, é respeitar as instituições democráticas. Experiência do mundo é que, quando há ruptura do processo democrático, o resultado nunca é bom. Alguém pode imaginar que substituir a Presidenta Dilma por Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha tem alguma vantagem? Com esse trio que é exemplo de honestidade honradez, eu acho que não.

Nós temos que trabalhar para mudar o seu rumo na economia. Começar com os juros, que devem ser baixados. A maior taxa de juros do planeta só serve para o capital especulativo. O capital produtivo, que é a nossa prioridade, só perde com isso.

Existe hoje no debate político dois caminhos. O primeiro seria aceitar que a Dilma seja condenada pelo Senado, o que parece ser inevitável, e depois os partidos como o PDT, PT e PCdoB partam para a oposição do governo Temer.

Outra opção é a Presidenta Dilma, pouco antes de cair, enviar ao Senado uma PEC convocando eleição para Presidente da República.

Dentro dessa perspectiva, o amigo tem alguma posição a tomar?

— Primeiro, nós temos que esperar que o bom senso alcance o Senado Federal e que não se condene uma pessoa inocente. Isso é o mesmo que você assistir a um tribunal julgar e condenar um réu inocente. Passada essa fase, se o Senado insistir, o melhor era todos fazerem uma eleição geral: para deputado, prefeito, vereador, senador… Porque aí começa a passar o país a limpo. Não adianta querer eleger um presidente com esse Congresso que está aí. Ou se faz uma eleição casada ou não vamos ter a crise resolvida.

O candidato a presidente Ciro Gomes, do PDT, compartilha dessa sua posição?

— Nós temos conversado muito. Estamos afinando a viola, as ideias. É claro que se a eleição for antecipada, o processo eleitoral é curto. Mas eu penso que uma crise do tamanho dessa, com posições radicalizadas, não dá legitimidade ao vice-presidente, que pode ser cassado pelo TSE, de fazer uma retomada da economia.

Se preferirem o Golpe, o melhor é a eleição geral.

O patrono fundador do seu partido, Leonel Brizola, dizia, nas campanhas que participou, que a primeira coisa que faria era questionar o monopólio da Globo. O candidato Ciro fará o mesmo?

— O Brizola tinha razão e cada vez mais a gente comprova isso, pois o monopólio da Globo é único no mundo. Nos EUA, quem é dono de rádio não é dono de televisão ou de jornal. Então, isso é um processo democrático, você pulverizar, democratizar, não ter na mão de apenas um grupo todo o sistema de comunicação. Infelizmente, o PT paga o preço de não fazer isso.

E penso que o Ciro Gomes vai questionar isso ou também, amanhã, se começar a tocar os fundamentos do sistema macroeconômico, que é um sistema agressivo contra a massa trabalhadora, vai cair também.

Nós temos que ter muita coragem e coerência e enfrentar um sistema que com muita sofisticação e inteligência que, sem uma bala, um revolver, faz a cabeça de milhões de brasileiros com novelas, com o seu jornalismo fazendo com que a sociedade criminalize os partidos e a política.

O que vai acontecer com aqueles deputados do PDT que votaram a favor do impeachment na Câmara?

—  Nós fizemos um processo altamente democrático. Desde meados do ano passado, nós fizemos oito reuniões com deputados, senadores e com a executiva do partido. Foi feita uma reunião no dia 22 de janeiro com todos os membros do diretório nacional, que é o órgão máximo do partido, e, por unanimidade, decidiu-se fechar a questão.

Seis parlamentares nossos decidiram não seguir a orientação do partido. Já está marcado para o dia 30 de maio uma deliberação final do diretório nacional que dará a sanção prevista no estatuto do partido.