Barack Obama fez sua escolha. Decidiu apostar no velho “dividir para governar”. No nós contra eles. Isso ficou cristalino na pressão de bastidores de Washington para que alguns governos da América Latina reconheçam o resultado das eleições em Honduras, independentemente da volta de Manuel Zelaya ao poder. Os governos da Colômbia e do Peru já teriam concordado.
O governo Obama parece ter decidido que é de seu interesse “isolar” o Brasil ou pelo menos se contrapor à diplomacia brasileira no hemisfério. Não será nada absolutamente explícito. Em diplomacia não convém ser explícito. É um jogo de xadrez. Lembrem-se que o projeto original dos Estados Unidos, de fazer a ALCA, foi sepultado. E que, no passo seguinte, o Brasil se recusou a fazer o jogo de Washington, de “isolar” os líderes que tanto desgosto causam aos estadunidenses — Chávez, Correa e Morales.
Obama manteve a política de seus antecessores, baseada nos “planos de segurança” — que se escondem atrás do combate às drogas e ao crime na América Latina (quem é que é “a favor” do crime?): os planos México e Colômbia, que promovem a interação siamesa entre forças de segurança dos três países, com óbvia ascensão de Washington sobre os parceiros. As bases militares são extensões naturais do poder de dissuassão dos Estados Unidos. Podem servir hoje para monitorar o tráfico de drogas, mas em questão de horas podem servir também para derrubar um governo local que ultrapassar “os limites”.
Notem, portanto, que a lógica intervencionista está mantida, ainda que camuflada sob novas roupas.
As decisões de Washington com certeza foram guiadas por outras considerações estratégicas: as descobertas do pré-sal e a decisão iminente do Brasil de “triangular” com a França através de acordos militares, injetando um poder europeu diretamente no equilíbrio de forças do hemisfério.
Não duvido que, em sua próxima visita ao Brasil, Obama arranje uma desculpa qualquer para se encontrar com o governador de São Paulo, José Serra. A estratégia dos gringos sempre passa por isso: quando descontentes com o poder central, eles apostam no poder regional. Foi assim na Bolívia. Foi assim na Venezuela. Foi assim no Equador. Foi assim no golpe de 64, no Brasil, quando Washington jogou tudo nos governadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Tudo indica que Serra será o candidato dos gringos. Menos por ele, mais pelos ótimos serviços prestados a eles por FHC.