Supervalorização do marketing eleitoral é criticada por Lupi

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, ouvido nesta terça (14/4) em Brasília na audiência pública dedicada aos partidos da comissão especial da Câmara dos Deputados para a reforma política, defendeu a necessidade de uma discussão séria e profunda sobre o papel dos partidos sob pena de se fazer uma reforma inócua, como várias outras já feitas, que visam a próxima eleição e não as  próximas gerações de brasileiros. “Os partidos precisam discutir mais política, mais projetos, mais ideias para o Brasil e mostrar por que e para que foram criados”, destacou.

egundo, pelo fato da democracia brasileira ser recente, desde a eleição presidencial de 1989 “temos queimado nosso patrimônio de conquistas sociais” e por isso é fundamental que a população também seja ouvida sobre a reforma política. Lupi condenou o marketing eleitoral ter assumido  importância tão grande na vida política brasileira, a ponto dos marqueteiros terem se tornado pessoas “até mais importantes do que os candidatos” nas eleições.

“Viramos Coca Cola, produto de prateleira de supermercado, e isto está errado. É preciso  valorizar o debate de ideias, a reforma política não pode visar apenas a próxima eleição, tem que ser importante para as próximas gerações para que isto aconteça, é preciso que a população também participe da discussão”, frisou Lupi.

Lupi defendeu a existência de um percentual máximo fixo para os partidos gastarem com marketing político, para limitar as despesas de campanha, e defendeu,  como Brizola defendia, a ideia que o horário eleitoral na televisão deveria ser ao vivo ou gravado com 24 horas, para que os candidatos se apresentassem ao natural, facilitando a escolha do eleitor, além de baratear custos.

“O marketing tomou conta do processo eleitoral. Todo mundo faz pesquisa, vê o que a população quer ouvir e aí se muda o nome do candidato, o nome do marqueteiro, mas é tudo a mesma coisa, é tudo igual”, argumentou o presidente nacional do PDT.

Na sua opinião, a principal crise dos dias de hoje é política e não econômica porque “falta gente para discutir o futuro da Nação”.

Ele acrescentou que é preciso encarar a realidade brasileira onde existem 34 partidos políticos funcionando, embora não existam 34 correntes de opinião – o que dá margem para que partidos defendam interesses legítimos, mas também interesses ilegítimos. Criticou também o atual sistema para a criação de partidos, coleta de assinaturas, observando que hoje em dia existem escritórios de advocacia que, desde que recebam, colhem essas assinaturas por encomenda e a justiça eleitoral as aceita.

A participação da população é fundamental, na opinião de Lupi, para que seja feita o que chamou de verdadeira reforma política. “Uma reforma que não esbarre em visões pequenas, com cada partido pensando na própria sobrevivência, satisfazendo egos”.

Ele complementou:

“Vejo que por sobrevivência até o meu partido, onde estou há 35 anos, é obrigado a agregar pessoas que tem até conflitos históricos com a gente, por conta de conveniências eleitorais. Não deveria ser assim, isto alimenta um ciclo permanente de desvirtudes”.

Lupi defendeu a existência da cláusula de desempenho para os partidos e manifestou preocupação com a tese da coincidência das eleições porque, obrigatoriamente, ela leva a prorrogação ou encurtamento de mandatos.  De acordo com ele, é preciso, ainda, valorizar os partidos históricos e combater as legendas de aluguel.

Na mesma sessão, foram ouvidos também os presidentes do PSD, Guilherme Campos; do PSB, Carlos Siqueira; do PRB, Marcos Pereira; e do PC do B, Renato Rabelo.

Um das propostas da reforma que tramita no Congresso, a mudança no sistema eleitoral proporcional para o chamado “distritão” nas eleições para deputados e vereadores – está longe de ser unanimidade entre os partidos.

De acordo com o relator da comissão especial que analisa a reforma política, deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), o relatório final do colegiado será entregue no início de maio, e a votação do tema no plenário da Câmara deverá ser realizada no dia 26 do mês que vem por determinação do presidente, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

 

Assista entrevista com Lupi  após a audiência pública:

 

OM/MCS – Agência Câmara