‘Precisamos mostrar o que o PDT quer fazer’, diz FLávia Morais

Depois ter sido a mais votada para a Assembleia Legislativa em 2006, com 47 mil votos, e de se eleger deputada federal pelo PDT, em 2010, com 152 mil votos,  Flávia Morais (PDT) disputará este ano a eleição para a prefeitura de Trindade (GO), município do qual foi primeira-dama por dois mandatos.
 
“Precisamos mostrar o que o PDT quer fazer”, afirma a deputada, que é presidente regional do partido em Goiás. Segundo ela, o PDT pretende eleger 59 prefeitos em outubro. Em entrevista ao jornal A Redação, Flávia comentou o trabalho em seu primeiro ano como deputada federal e revelou que um dos seus principais objetivos é ajudar o governo a terminar a revitalização da Rodovia dos Romeiros. Ela destinou recursos de emenda parlamentar para a obra, que será executada pelo governo do Estado, com recursos federais.
 
Flávia também comentou a relação política com o governador Marconi Perillo (PSDB) e negou que tenha feito acordo com o deputado estadual Jânio Darrot (PSDB), outro pré-candidato em Trindade. “Se tivermos apoio do deputado Jânio é muito bom. Mas não temos intenção de deixar a candidatura.”
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
 
A Redação – Como foi o trabalho na Câmara dos Deputados neste primeiro ano, depois de ter sido uma das mais votadas em 2010?
Flávia Morais – Foi muito produtivo. Atuei nas comissões do Trabalho, Seguridade e Família e Direitos Humanos e conseguimos participar efetivamente de vários debates importantes. Tive a oportunidade de ser eleita pela bancada das mulheres como procuradora-adjunta. Criei a Frente Parlamentar Mista em Defesa e Promoção dos Direitos da Pessoa Idosa. Abrimos a discussão de temas importantes como a execução do Estatuto do Idoso. É um grande avanço, mas muitos direitos não são atendidos. Também lutamos pelo Passaporte do Idoso, que criamos em Goiás com o passe livre intermunicipal e não existe em muitos Estados. Também criamos o Fundo Estadual do Idoso. Outro ponto importante foi conseguir, em audiência pública com a presença da ministra de Direitos Humanos Maria do Rosário, o julgamento com prioridade a idosos. Eles precisam ter agilidade e prioridade nos juizados.
 
Estamos na expectativa da abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o tráfico humano. Já fui convidada para ser relatora. Goiás é um dos Estados com maior índice de tráfico de pessoas, principalmente para a prostituição. Com a CPI, vamos ter acesso a dados mais específicos sobre o tráfico humano. A comissão vai partir de levantamentos que já existem e vamos aprofundar em outras questões. Como é uma situação internacional, cada país tem a sua realidade e motivos para que isso aconteça. E queremos saber por que Goiás. Qual é a fragilidade, se é falta de campanhas, se é questão de geração de empregos. O poder público não pode cercear ninguém do direito de ir e vir. Mas muitas pessoas viajam para fora do país iludidas, com falsas promessas e quando chegam lá e se deparam com uma situação totalmente diferente, têm o passaporte confiscado, exigem pagamento de diversas despesas. E a pessoa acaba ficando presa nessa situação. Vamos fazer levantamento com o Itamaraty e embaixadas dos países que têm maior destino para coibir essa prática.
 
Além do trabalho parlamentar, a senhora já tem conseguido articular junto ao governo a liberação de emendas para municípios goianos?
Esse ano a presidente Dilma Rousseff (PT), mesmo não tendo direito por não ter apresentado emendas no orçamento, já liberou emendas para os deputados novatos da base. Conseguimos empenhar todas e conseguimos emplacar, junto às emendas da bancada goiana, uma que eu considero ter amadrinhado, que foi a reestruturação da  Rodovia dos Romeiros, o caminho pelo qual os pedestres fazem entre Trindade e Goiânia. O projeto prevê a duplicação da via e reestrutura com implementação de banheiros, estrutura para alimentação e mais segurança e conforto para as pessoas que fazem a peregrinação todo ano.
 
A obra será executada pelo Estado ou município?
Será executada pelo Estado, pela Goiás Turismo. O recurso foi destinado via Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco). Nós vamos trabalhar para tirar os recursos que devem ser executados pelo governo do Estado. Mas teve um empenho grande para que pudéssemos priorizar esta obra que é de grande importância para o desenvolvimento econômico da região Metropolitana.
 
É possível dizer quando os recursos serão liberados para o começo das obras?
Mesmo antes da homologação do orçamento da União já estivemos com o Marcelo Dourado [Diretor-Superintendente da Sudeco] e estamos grudados nisso. Talvez haja mais corte no governo federal, então estamos esperando para ver se haverá mais contingenciamento. A emenda inicial era de R$ 100 milhões e hoje tem R$ 15 milhões para a emenda. E estamos trabalhando no Gabinete Civil do governo federal para que não haja mais cortes. E tem todo um trabalho político, de apresentar a festa, a importância de um evento que já se tornou nacional. Historicamente, os deputados são muito céticos em questão de emenda de bancada. Talvez por eu ser novata e ter muita vontade, acredito que vamos conseguir liberar.
 
Por que essa dificuldade em liberar emenda de bancada?
Como é de bancada, ninguém corre atrás, acha que vai andar sozinha. E eu vou correr atrás.
 
Com essa emenda, de uma forma ou de outra, a sra. estará contribuindo com o Estado. Como está a relação com o governo estadual, já que a sra. já fez parte do PSDB e hoje está em outro partido?
Como parlamentar, representante do povo de Goiás, temos que respeitar o governo institucionalmente e apoiar o governo no sentido de trazer recursos para cá. Não é hora de ficar com diferenças políticas. É hora de trabalhar por Goiás e pelos goianos. O governador que o povo escolheu foi esse. É com ele que temos que trabalhar. E ao mesmo tempo, a questão política, de apoio político, aí a relação é de composição. O PDT tem um deputado da bancada estadual [ Misael Oliveira ] que tem votado junto com o governo, tem se dito da base do governo. Mas o PDT é independente, não tem nenhuma parceria política com o atual governo de Goiás.
 
O partido dará alguma orientação para as eleições municipais?
Prioritariamente nós temos buscado coligação com os partidos da base da presidenta Dilma Rousseff (PT). E nós sabemos que isso não é 100%. Alguns peculiaridades locais serão respeitadas, temos que saber que, além das composições partidárias, existem composições históricas de afinidades, conhecimento e respeito mútuo que não podemos atropelar por diferenças partidárias em nível estadual. E a reestruturação do partido – estamos em 214 municípios no Estado – foi feita para ter facilidade de compor com os partidos da presidenta Dilma.
 
O partido já tem projeção de lançamento de candidaturas?
Temos 59 pré-candidatos a prefeito. Hoje, temos apenas uma prefeita em Goiás. É a prefeita Andréia Lins, de Damianópolis, no nordeste goiano. E acredito que o PDT será o partido que mais vai crescer proporcionalmente. Se fizer 10 prefeitos, crescerá 1.000%.
 
Falando em candidatura e o fato de o partido ter apenas uma prefeita, a sra. já lançou a pré-candidatura à prefeitura de Trindade. E pela votação expressiva que obteve em 2010, é tida como uma das favoritas. E, nos bastidores, há informação de um acordo com o deputado estadual Jânio Darrot (PSDB), que também já se coloca como pré-candidato no município. Como estão essas conversas?
Acredito que nós vamos ter duas candidaturas em Trindade. Não acredito em composição porque nós temos três pré-candidatos representativos. Se tivermos apoio do deputado Jânio é muito bom. Mas não temos intenção de deixar a candidatura. É uma realidade sem volta.
 
Qual tem sido o trabalho depois de ter decidido pela pré-candidatura?
Estou conversando com diversos partidos, fazendo visitas, trabalho de estruturação das propostas. Até para que possamos oferecer propostas viáveis para alavancar o município. Se não tivéssemos tendo a cobrança, talvez esse não seria o caminho. O povo nos pede . E, pela experiência de ter sido primeira-dama por oito anos e ver de perto os problemas da cidade, me sinto nas condições de apresentar um grande projeto. E fazer um mandato grandioso, um grande trabalho.
 
Das três candidaturas, duas seriam dentro da base do governo federal, já que o prefeito Ricardo Fortunato (PMDB) deve disputar a reeleição. Como estão as conversas com o PMDB?
Estão andando, estamos conversando com todos partidos. Temos muitos amigos na base do governo e na oposição ao governo estadual. Estamos trabalhando dessa forma. Hoje o momento é de articulação para termos uma boa composição.
 
O PMDB deve acompanhar a candidatura do prefeito. A sra. tende a buscar apoio do partido, tendo em vista que o PMDB está divido e a gestão do prefeito é tida como ruim?
Hoje já houve uma divisão dentro do PMDB. Aconteceu uma dissidência do PMDB para o PSD. O prefeito acabou ficando com o partido e quem não estava insatisfeito saiu. Mas nós respeitamos todos. Nunca tivemos conduta de revanchismo e vamos conversar. O tratamento será propositivo e respeitoso.
 
A sra. vai se apresentar como candidata de oposição ao prefeito?
Esse não é o nosso perfil. Na verdade, o povo é que tem falado. Claro que somos oposição. Mas o trabalho não é ficar fazendo denuncismo, fazendo críticas. Minha função como candidata é apresentar propostas. Quem trabalha só com defeitos é porque não tem nada para mostrar. E colocar o que queremos fazer. Temos que ter respeito com o povo de Trindade. Vamos continuar nivelando a campanha por cima. O povo quer solução para os problemas.
 
O que pesou na pré-candidatura? O que foi decisivo para abrir mão de dois mandatos na Câmara dos Deputados e ser candidata em um município que é tido como interior?
Trindade tem características de cidade de interior pela questão religiosa. Mas faz parte da região Metropolitana de Goiânia e é o sexto maior colégio eleitoral do Estado. Trindade é uma cidade de grande importância para Goiás e para a nossa trajetória política. E, para tomar a decisão, eu pensei muito tempo, conversei com muitas lideranças. E o entendimento é que o PDT ocupe projeto no executivo. Até então, não tivemos uma administração em Goiás para mostrar o que o PDT pode fazer. Não podemos ficar só em palanque. Precisamos mostrar o que o PDT quer fazer. E vamos trabalhar em outros municípios para termos bandeiras prioritárias para uma gestão do Executivo.
 
Uma delas é a escola de tempo integral, uma marca do PDT que nos remete a Leonel Brizola (ex-governador do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, fundador do PDT), que criou várias escolas de tempo integral no Rio de Janeiro há 50 anos. Imagina a visão que esse homem teve, juntamente com Darcy Ribeiro (antropólogo que planejou a implementação das escolas integrais com Brizola). A família moderna de hoje exige respostas do poder público como essas. A mulher trabalha fora, o homem também. Temos visto nossa criança ser totalmente cooptada pelas drogas. Precisamos apresentar alternativas a escola de tempo integral é uma delas. O que vemos hoje na rede pública de ensino são alunos de escolas públicas passando em universidades particulares e alunos de escolas privadas passando em universidades públicas. É o inverso. Por que o ensino das escolas públicas não capacita os alunos para passar em um vestibular de uma universidade federal?
 
Qual é a principal demanda de Trindade hoje?
Estamos trabalhando sobre vários temas. E temos a saúde, que não é um problema só de Trindade. Precisamos retomar o que Trindade tinha e avançar ainda mais. Já conseguimos com o governo federal recursos para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Estamos tentando transformar um posto de atendimento 24 horas em maternidade. Precisamos retornar as especialidades para garantir que o Hospital de Urgências funcione, de fato, como Hospital de Urgências. Hoje funciona apenas como pronto-socorro.
 
Em relação à educação infantil, conseguimos cinco Centros Municipais de Educação Infantil (Cmeis) com a presidenta Dilma, quatro quadras cobertas e duas coberturas para quadras. Isso é uma retaguarda para as famílias que precisam desse apoio. No turismo, hoje temos indústria em Trindade. Algo que despertou há pouco tempo. Em cinco anos, temos mais de 120 pousadas.
 
Isso é resultado só do turismo religioso ou há outras opções?
Aí eu acredito que é função do poder público de fortalecer e aproveitar todo esse potencial. Estamos garantindo recursos para a realização de um centro de convenções para a realização de grandes eventos no município. Também queremos construir um parque temático para fixar o turista mais dias em Trindade.
 
Outra demanda da cidade é a coleta seletiva de lixo. Estamos conseguindo recursos para resolver isso. E também resolver o problema do aterro sanitário. Ninguém lembra que Trindade tem aterro sanitário, todo mundo fala que é um lixão.

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