Exercitar a mente com um trabalho prazeroso é o que todos aspiram encontrar na vida, antes que, pronto, tudo acabe. Porque, o que importa a velha morte? O diabo, diria Darcy Ribeiro, é perder a vida. Essa sim é uma perda. Um dano à vida.
Esta é a sensação em ler, reler, pensar, admirar, comparar, refletir sobre os textos de Darcy Ribeiro e a liderança de Leonel Brizola. Os dois faziam a práxis política como a soma da teoria e a prática.
Darcy usava uma linguagem rápida, falava com pressa, tentando acompanhar seu pensamento e não perder tempo. Ele tinha pressa. Tinha fome de tempo. Sabia que o tempo é curto para realizar tanto e muitos sonhos. Gostava de se reconhecer como um indignado. Talvez por isso costumava distinguir os intelectuais em duas categorias: os áulicos e os iracundo. Aqueles enredados na sombra do poder para se darem bem e os outros, iracundos, irados, insatisfeitos que buscavam uma identidade própria para a formação e assunção da civilização brasileira.
Brizola falava como um artesão, costurando cada fala para realizar seu pensamento.
Darcy ao escrever em 1968 sua obra impactante que intitulou “O processo civilizatório”, tentou interpretar os milênios da civilização a partir de um complexo sistema de crenças, meios de produção e tecnologia. Tripé que utilizaria para formular as possibilidades autóctones de história para surgir uma civilização que deixaria o resto do mundo surpreso com a riqueza e pluralidade da cultura brasileira. Até chegar no seu O povo brasileiro que desafiou a dicotomia de classe entre burguesia versus proletariado de Marx e propor o preconceito social de classe como categoria mais específica para entender a formação cultural da sociedade brasileira.
Vivemos tempos tristes. Desalentadores. A barbárie com seus dentes afiados.
Não se faz mais gente como Darcy e Brizola. Esse tipo de material humano se esgotou da prateleira dos deuses. Nos resta a mitologia de suas estórias narradas. Vivemos um tempo pobre de políticos. Tempo risível.
Darcy e Brizola falavam de educação em tempo integral, crianças na escola como um templo sagrado do futuro do país. Educação como investimento no presente dessas crianças para construir futuros pesquisadores, profissionais e não vítimas de balas perdidas, matando a nação. Hoje, tudo virou pó entre gangues de políticos em torno de interesses e dinheiro.
Pobre país sem Darcy. Sem Brizola.
Diante do imperativo da força do povo, Getúlio ofereceu sua vida em holocausto. Darcy e Brizola ofereceram a apoteose para o desfile da sua história, feita em direção ao olimpo dos titãs, desafiando a estupidez do poder que insiste em humilhar o futuro.
*Carlos Michiles é Ph.D em Ciência Política pela Universidade de Manchester, Inglaterra e fundador do PDT.